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Energia a Mais

A Hiperactividade vista à lupa

Energia a Mais

A Hiperactividade vista à lupa

31.Jul.08

e ontem foi assim...

sem tempo para escrever, deixo hoje um resumo do dia de ontem. Como era de prever foi um dia complicado. Tal como aconteceu no ano anterior, o Rafa teve uma crise mesmo no momento exacto - antes do jantar e da tentativa de festejo do segundo aniversário do irmão Francisco.

Claro que eu já estava á espera que algo semelhante acontecesse! No entanto como ele estava mais ocupadp pelo campo de férias eu ainda tive uma esperança que as coisas corressem um pouco melhor.  O dia começou com muito entusiasmo, pois para além do aniversário, o Rafa festejava com um espetáculo para os pais, o encerramento do campo de férias.  Mas depressa o entusiamo passou a excitação nervosa que se transformou na inevitável ansiedade e depois em pura angústia. Aos vómitos o Rafael lembrou-se que poderia ser necessário trocar de roupa em frente aos colegas do campo (coisa impensável para quem há 2 meses não consegue vestir roupa interior). Com muita paciência lá consegui convencê-lo que eu falaria com a monitora antes da festa e ele levaria um calção que serviria para todo o espetáculo!

A angústia diluiu-se um pouco mas com o aproximar da hora (20:30H no local da festa) ele voltou ao histerismo. Com a agravante de ter ao mesmo tempo o jantar em que estariam os avós e a bisa para cantar os parabéns ao Francisco e dar umas prendinhas. Com toda a gente a pressionar (toma banho, tá na hora, vá lá olha o calção, deixa vestir Rafael, olha o mano, temos de fazer um brinde, anda para a mesa...) o Rafa foi entrando naquele tipo de registo típico dos hiperactivos - sem controlo. De repente começaram as agressões, o tentar destruir o bolo de aniversário, o não sentar á mesa, não se deixar vestir, gritar cada vez mais alto, empurrar o irmão para o lado, escapar do meu aperto, enfim, o normal quando não consegue ouvir ninguém e ninguém se ouve...de tanto barulho e confusão!

Já o avô tinha ficado tão nervoso que queria ir dar uma volta «para apanhar ar», a bisavó como sempre choramingava e o Francisco gritava a plenos pulmões no colo da avó, consegui finalmente apanha-lo na sala, fechei a porta e com a dose normal de bom senso (única coisa que resulta) abracei-o e deixei passar algum tempo só a escutar o seu choro...que aos poucos se tornou menos histérico até conseguir falar com ele. Acabamos por concordar que seria divertido ver a reacção do Francisco ás prendas, que ele podia acender as velas do bolo e montar as prendas do irmão. Que não havia problema em chegar 15 minutos depois da hora marcada para a festa do campo, pois todos se atrasam e nós até tinhamos uma boa desculpa! Embora tudo fosse feito um pouco a correr, o certo é que conseguimos festejar o aniversário, fomos a tempo do início da festa e acabamos por passar um bom bocado ao ver o Rafa exibir-se perante uma centena de pais orgulhosos.

Não fosse o descalabro final quando ele de novo completamente eufórico, espalhou o caos na exposição dos trabalhos por querer arrancar os dele, se engalfinhou com um colega de brincadeira,  desatou aos palavrões pela rua e o barulho despropositado ao chegar a casa perto da meia noite,  até poderia dizer que «não correu mal de todo!»

29.Jul.08

É já amanhã...

dois acontecimentos importantantes cá em casa:

 

O Francisco faz dois anos. Parece mentira, pois ainda me lembro com detalhes da sensação de o ter dentro de mim. Aquela sensação de ter o Rei na barriga, sabem? Apesar de muito agitado ao ponto da MINHA BARRIGA MAIS PARECER ELÁSTICA, como se fosse apenas um fino cobertor que deixava notar todos os seus movimentos, a minha gravidez foi quase toda feita na cama, em repouso absoluto, por isso o Francisco teve tempo para descansar.

Devido aos antecedentes de abortos expontâneos e de um útero frágil, tive de ficar logo no 1º trimestre de cama. Depois e porque o Francisco ameaçou querer sair mais cedo (ás 27 semanas) tivemos de o fazer esperar com a ajuda de um medicamento e mais repouso... (nessa altura até os meus pais se mudaram para minha casa pois era impossível cuidar do Rafa e permanecer de cama, por isso para eles este neto é também sentido desde o primeiro instante) Ora ele gostou da ideia e com a tal ajuda, acabou por ficar mesmo até ao último dia possível (nasceu no domingo dia 30, caso não tivesse nascido e já com 42 semanas, teria sido obrigado no dia seguinte - segunda havia consulta com internamento previsto!) Mas ele portou-se lindamente! Como não quis que a mãe voltasse a passar por um parto difícil e uma hora loooonga, decidiu que sairia assim que entrasse no hospital.

Assim e porque o domingo é dia Santo, lol! entramos a correr no hospital (depois de 15 minutos alucinantes de carro) ás 08 da manhã e ás 08:20H já o papá babado ligava para todos os membros da família a contar os pormenores.

Posso dizer que foi um lindo parto daqueles que nos fazem ter saudade e nem me lembro de sentir dor.

Ao fazer dois anos o meu Francisco tem já a sua personalidade vincada, é corajoso e destemido, adorável e frenético, tudo isso e muito mais.

PARABÉNS MEU ANJO  E OBRIGADA POR EXISTIRES

 

o outro acontecimento importante - o Rafael fica oficialmente de férias, isto é fica em casa. Comigo e com o irmão, por enquanto sem o pai (até dia 18...) Sem os avós que agora estão de férias e precisam de descansar (embora já se tenham oferecido para ajudar, claro!)...sem campo de férias...

Ocupar-lhe o corpo e a mente vai ser tarefa difícil. Depois de estar ocupado estes dias desde o final da escola, sempre com actividades diferentes, como a canoagem, o paint ball, surf, multimédia, futebol, basquete, etc (e com idas á piscina e á praia) já temo o comentário da próxima sexta feira - «ganda seca, mãe». Tenho mesmo de me habituar á ideia de percorrer alguns km e passar pela praia, pelo centro multimédia de Espinho ou pelo Europarque e tentar preencher os dias, de outra forma será o costume - aborrecimento, casa desfeita e muitas queixas dos vizinhos.

Já agora aproveito para dar nota dez á organização do campo 5 Semanas, perfeita desde o primeiro dia, o cuidado que tiveram em analisar o comportamento do Rafa, as sugestões para que tudo desse certo (e resultou) e a paciência com que o aguentavam entre actividades (ele está sempre á espera da próxima, não é Victor?). Muito obrigada e por favor, para o ano REPITAM, OK?

28.Jul.08

A amizade

Quem tem amigos de verdade, sabe dar valor a muitas pequenas coisas. Digo isto porque a amizade verdadeira é algo que muito prezo e tenho prazer em cultivar. Já tive ao longo da vida muitos conhecidos, colegas e «amigos». Alguns, partiram para sempre levando pouco ou até nada de mim, sem deixarem saudade. São normais estes tipos de relacionamento, pois a vida é mesmo assim!

Outros, no entanto, ficam num plano diferente, são únicos por motivos só deles e porque não há nada melhor do que poder contar com eles, nunca os deixo partir. São esses os meus amigos de verdade. Aqueles em quem confio e que sei que confiam am mim, que me pedem ajuda e me estendem a mão quando preciso. Os que se riem comigo mas também estão lá quando as coisas não correm tão bem.

Quem tem filhos com características especiais sabe muito bem como é difícil o convívio com «amigos». Muitos aproveitam para criticar, dar lições de moral ou sentir pena da situação. Muitos desistem, começam por recusar um convite para jantar, depois uma saída em conjunto é eternamente adiada e de repente passaram 5 anos, moramos na mesma zona e vê-mo-nos apenas no supermercado.

Sei que nestes sete anos eu e o meu marido fomos ficando com poucos «amigos». Os que ficaram ao nosso lado, são os que nos conhecem realmente e sabem conviver de forma descontraída e sem preconceitos. São capazes de arranjar estratégias e dar sugestões para que tudo corra bem e por isso sentimo-nos bem. Como a N...minha amiga do coração que é capaz de alterar todo um fim de semana para que ela e o marido (padrinhos do Francisco) possam vir dar um beijinho antecipado de parabéns ao meu pequenino e mais uma vez trazer o seu bom humor e muitas prendinhas (que os miúdos adoraram).

Como sei que a vida dela se cruza com a minha em tantas coisas e também no papel de mãe de uma criança muito especial, dou valor redobrado á visita e agradeço pela generosidade com que é minha/nossa amiga, por isso não a deixo partir!

25.Jul.08

As férias que talvez não sejam

Acho que já comentei aqui algumas vezes como tem sido difícil conseguir tirar férias desde que o Rafa nasceu. As últimas que posso considerar como tal (embora pouco tenham servido para descansr pois nessa altura ainda nos estavamos a adaptar ás «diferenças» do meu filhote) foram há cinco anos e estivemos no algarve.

Era pois com entusiasmo que encarava a hipótese de tirar este ano uns diazitos de descanso (relativo), longe da rotina e principalmente com ajuda do marido. Claro que planear para onde, atendendo ao orçamento e a todas as condicionantes, não é fácil.

Colocamos logo algumas hipóteses de lado, não podemos viajar muitas horas de carro (por isso ou vamos de avião para algum sítio ou temos de ficar pela nossa zona), não podemos ficar em locais onde as crianças se sintam presas, tipo T0 que alugam para férias nas praias. Também não podemos ir para um sítio em que só se possa fazer uma actividade (ir á praia, o mais velho nunca vai mais de 2 dias seguidos) sem ouro tipo de animação.

Depois de muito pensar e porque a ideia é conciliar a animação para os miúdos com o descanso dos pais, encontramos o que nos pareceu o plano certo - um parque temático em Espanha (perto de Barcelona - podemos sair de avião) em que os miúdos se divertem, com várias actividades do próprio parque para as cranças e com monitores do hotel. Os pais podem apanhar sol, tomar uma bebida ou duas, apanhar mais sol e descansar!!!

Bom, não é ? Pois, era! Acontece que desde maio, acreditava eu que o meu marido tinha resolvido na empresa a data das férias. Desde maio que tinhamos reserva para a semana de 09 a 16 de Agosto...mas, surpresa!! O meu marido, esqueceu-se de planear isso com o patrão. Afinal não pode tirar férias nesse período, só a partir de 18...o problema é que está tudo cheio, até final do mês! Não há vagas nos hoteis do parque, não há vagas em hotéis perto do parque e tudo o resto implica já outras despesas não previstas e de todo não suportáveis.

Resta a resignação de mais um ano a suspirar com três diabinhos (o pai consegue ser mais um) em casa, sem nada para fazer a não ser chatear a mãe a toda a hora, com a avó sempre a querer ajudar (nessa altura já estará a trabalhar pois as suas férias são no início do mês) por isso rotina, rotina e mais rotina!!! HELP

25.Jul.08

Francisco (parte II)

Eis uma lista de coisas que o meu filhote (já ) sabe fazer, de bom e de menos bom...

 

As habilidades:

sabe dar cambalhotas sozinho, correr em velocidade, dar belos chutos na bola

sabe comer sozinho a canjinha, sem entornar a colher, beber sozinho o leitinho pela caneca, comer os iogurtes e gelatina

sabe como se pendurar nos ferros e corrimões e balançar

sabe vestir a camisola e tirar os calções e a fralda

 

As maroteiras:

sobe aos bancos e abre as janelas (nunca me posso esquecer dos fechos de segurança)

sobe para cima das camas e treina saltos em altura

enche a boca de água e despeja-a para cima de nós ou para o chão

dá pontapés e aplica toda a força, tanto nas pernas dos conhecidos como nas dos amiguinhos e desconhecidos

gosta de subir/descer escadas a grande velocidade e saltar muros

fujir com caixas de rebuçados ou chicletes quando vamos ás compras

 

As preferidas:

enfiar rolos inteiros de papel higiénico na sanita

esconder a chucha no local mais improvável (no frigorífico, dentro da embalagem da manteiga, por trás do autoclismo, debaixo do tapete da entrada)

limpar as janelas e portas de vidro com toalhitas de bébé

pôr montanhas de sal na comida do irmão

 

Como comunica:

(muitas das suas palavras ainda necessitam de tradução mas é muito desenrascado e conseguimos entender sempre o que quer)

iéé - é como chama o irmão Rafael (também sabe dizer mano)

pipiaco - autocarro (adora vê-los, cumprimenta-os e acena)

canhia - a canja (adora canja e sempre que come em casa tenho de lha oferecer ás refeições)

cuncun - tem vários significados, dependendo do contexto, o mais vulgar é senta-te, partiu ou está estragado

juado - gelado (descobri-os no verão passado e nunca os esqueceu)

nhanha - a velhinha ( a bisavó com quem partilha muitas horas de convívio)

 

Os momentos:

são muitos e tenho-os guardado a todos

adoro quando me chama mal chego ao infantário - mamãe!!! e corre para os meus braços

o cheiro do fim do banho e o longo abraço enrolado nas toalhas

os xiiiis muito apertadinhos que dá em toda a gente

a cara de maroto quando pedimos para mostrar o seu melhor sorriso

o adormecer junto a mim, tirar a chupeta para o lado e dizer mesmo quase antes de fechar os olhitos - «tau(xau) mamãe!»

 

22.Jul.08

O Francisco

Já há algum tempo que queria escrever um post só para o Francisco, a minha pérola mais pequenina. O Francisco foi um bébé muito desejado mas muitas vezes adiado. Quando os problemas com o comportamento do Rafael já não deixavam margem para o descanso e os planos de mais um filho pareciam ter sempre um «vamos ver para o ano, deixa passar esta fase», acabei por concordar com o meu marido e deixar de planear. Assim e com uma diferença de seis anos do irmão, demos as boas vindas ao Francisco.

Sempre acreditei que lá por serem irmãos, os genes não iriam ser determinantes, a hiperactividade orgânica não é assim tão vulgar e o mais novo não teria de ser mais um furacão na família. No entanto estou prestes a dar a mão á palmatória.

O Francisco é tão turbulento que mais parece ter pilhas duracell. Não digo que seja como o irmão, isso seria impossível! Mas que nos faz dar ao pedal, isso não há dúvida.

No desenvolvimento do Francisco, mais dentro da normalidade do que o do  Rafa, nota-se uma inevitável cópia de comportamentos do mano mais velho e a sua parte de geniozinho, ou sangue na guelra, como diz o Dr. Luís. Mas também muitas características de uma criança nervosa, agitada, com um padrão de sono irregular e muito curto.

Na escolinha, notam sobretudo a dificuldade em brincar sossegado, em socializar e a maneira muito agitada de se comportar. Ultimamente fui chamada duas vezes á atenção por andar muito agressivo, bater nos meninos, gritar muito na sala, não querer dormir e dizer palavrões ( a tal atitude que copia do mano ). Como está prestes a fazer dois anos no dia 30 deste mês, penso que esta é uma fase algo precoce. Mesmo assim os mádico que acompanha o Rafael, acham que ele vai ser uma criança (ainda) mais dificíl do que o irmão, pelo que me estou a prepar para uma bela luta antes dos 40! Por essa altura entre um adolescente e outro a deixar de ser bébé, vou ter certamente de tomar uma atitude ou mudar-me para bem longe lol!

Estou a fazer uma lista das aventuras do Francisco e uma lista das palavras mais significativas, usadas por ele e vou deixar outro post para dar a conhecer  a pérola que tenho cá em casa.

22.Jul.08

a história da ausência

há alturas da vida em que as palavras não saem. São momentos em que as emoções se emaranham e não sabemos como deixá-las sair. Tive há pouco a experiência de perder alguém muito próximo. Embora tenha tentado escrever alguma coisa que me fizesse passar para o blog um pouco da minha emoção, a verdade é que me sento ao computador e as palavras perdem-se.

A minha ausência tem um efeito de limpeza de alma, o tempo que necessitei para me recompôr por dentro e viver com tranquilidade mais uma etapa.

Espero que compreendam e não irei falar mais disto, porque há coisas que ficam só para nós!

 

 

09.Jul.08

Eu e a anorexia

Abro aqui uma excepção para falar de mim própria. Este não é o objectivo inicial do blog. No entanto, a minha maneira de ser e de enfrentar as situações, tem a ver com um conjunto de factores que moldaram a minha personalidade. É essa personalidade que me faz reagir e por isso se me conhecerem, talvez entendam o porquê de certas reacções.

Num post anterior veio á baila a alimentação. Este é para mim um tema delicado. Tenho uma espécie de guerra comigo mesma com esta questão. Hoje ao visitar o blog de uma amiga, vi que o conflito gerado com a nossa imagem, o que mostramos aos outros e aquilo que fazemos para mudar essa imagem, é muitas vezes difícil. A aparência é muito importante (e ainda bem!) e somos alertados cada vez mais para determinados problemas de saúde que se relacionam com o modo como nos alimentamos.

Conheci ao longo da vida muitas situações diferentes. Aprendi por isso a não julgar. Cada caso é um caso. Este é o meu.

Em criança sempre fui muito magrinha ( com 3 anos tinha 11Kg o que preocupava e de que maneira a minha mãe). Até aos 10 anos fui tendo peso abaixo da média, por isso quando começei a engordar um pouco, por volta dos 11 anos, a minha mãe achou óptimo. O corpo entrou em mudança e menstruei a 1ª vez aos 12 anos. A partir daí foi o grande salto. Passei de senhorinha a senhora em menos de três anos e por volta dos 15 anos tinha engordado realmente! Vestia 38 e tinha tendência para ancas e coxas, típico, não?

Os problemas começaram um pouco mais tarde, quando passou a ser evidente que os outros me viam como gorda, uma «rabo grande» com pouca motivação para sair ou «curtir» com coleguinhas de turma. A auto-estima foi-se e o isolamento passou a ser a única opção.

Depois de uma vida académica recheada de muito Bons e de notas 20, a faculdade era o caminho lógico. Mas o patinho feio queria ser cisne, queria mudar! Penso que os meus pais nem se aperceberam mas propositadamente fiz por concorrer a um curso (direito) para o qual sabia não ter vocação, a uma faculdade que não tinha nota para entrar (podia entrar em Lisboa mas decidi escolher Coimbra e não entrei por décimas). Não quis concorrer á 2ª fase e acabei por parar um ano.

Esse foi o ano da transformação. Tudo na minha vida se alterou. Eu, menina perfeita, princesa dos papás, que nunca tinha vontade de saídas, passei a sair mais e com novas companhias. Passei a mudar a minha forma de vestir e teimei em mudar o meu corpo. Primeiro foram as dietas de verão, aproveitar o tempo fresco para comer saladas e fruta, depois a redução das quantidades que ingeria. Aos 19 anos o meu físico estava muito melhor (tinha 52Kg para 1,56m ). Fiz o priemiro ano de faculdade no curso de gestâo de marketing e publicidade, um meio que tinha muito a ver com aparência, com o físico. 

Deixei a casa dos pais. Viver sozinha foi uma festa. Ninguém podia controlar o que comia e as idas a casa ao fim de semana eram fugazes e sempre evitava perguntas.

Passei a fazer apenas uma refeição, sem carne ou peixe, apenas de legumes e só ao jantar. O almoço não me preocupava porque estava na faculdade e não ia comer. Mas entretanto achei que comer á noite não era bom, depois não gastava energia, então passei a comer um iogurte magro ao almoço e beber chás ao jantar.

Se tivesse de comer em casa dos meus pais, iludia com maçãs ou sumos de cenoura (mas passei a comprar livros de nutricionismo com informação sobre as calorias e antes de pôr na boca confirmava vezes sem fim, o valor energético da maçã média). O que me punham no prato acabava no fundo dos bolsos ou no lixo quando ninguém estava a olhar.

Estava nos 42kg quando apanhei uma pneumonia grave e tive de voltar a casa. Tinha tanta fraqueza que a minha mãe me dava o comer na boca (só sumos e fruta a meu pedido).

Aos 40kg o meu médico deu-me a mim e á família um prazo de 48H para começar a comer ou teria de ser inetrnada. Fiz um esforço sobretudo pela minha mãe, mas lembro o histerismo quando me obrigou a comer sopa com batata, pão e leite. Lembro as insónias (minhas e dela) por ter de me pesar e dizer ao médico que não baixara mais o peso. Lembro as milhentas flexôes matinais porque queria queimar as calorias «a mais» da fatia de queijo.

Quando conheci o meu marido, tinha 42kg. O carinho e a força que me deu, obrigando a ver no espelho tal como ele me via, levou-me a tentar fazer uma refeição de faca e garfo. Ele que tanto aprecia a boa comida, detestava comer sozinho e foi assim aos poucos que dois anos depois, quando casamos (tinha eu 25 anos) estava com 44kg. Tinha, mas depressa voltei aos 40kg! A minha preocupação em que a pílula me fizesse engordar foi a desculpa. Na realidade a aversão aos alimentos mantinha-se. Quando tentei engravidar o médico deu-me um ultimato, ou engorada ou não consegue. Três anos e dois abortos depois, veio o Rafa. O meu peso oscilou muito na gravidez. Uma anoréctica não quer comer mas não é burra.

Sabia que tinha de ganhar peso pela saúde do bébé. Foi por essa altura que uma grande amiga me consegui levar a descobrir outras formas de vida. Mais naturais, menos agressivas, as comidas de estilos vegetarianos ou mesmo macrobióticos, começaram a fazer parte do meu menú.

Aos pouco fui adaptando. Passei a ingerir mais quantidade de cada vez, passei a ter menos aversão a certos alimentos e começei a gostar muito de cozinhar. Introduzi a carne (só de aves, 2x por semana e peixe 3 a 4x) Não consigo beber leite mas optei pelos derivados da soja. Se me apetecer um doce, como mas não como mais do que 2 por semana e se o fizer num dia de semana, vou cortar noutra coisa qualquer.

Tenho como meta manter os 45/46kg, depois da segunda gravidez (em que engordei apenas 6 Kg) recuperei cheguei aos 48!

Sei que tenho de me alimentar. Tenho uma vida activa e duas crianças pequenas. Numa semana de mais stress, chego a perder três kg.  Por isso luto por comer mesmo que não sinta vontade. Sei que se não fizer o pequeno almoço, posso andar o dia inteiro sem comer nada e não dar por isso!

Posso não ter a imagem ideal mas aprendi a viver comigo tal como sou.  Aceito-me e quero continuar a cuidar de mim.

A  anorexia é uma teia que nos enrola cada vez mais. Não conseguimos parar, queremos ficar sempre mais magras. Tenho medo sempre que ouço miúdas falarem em dietas. Apavora-me que fiquem como eu fui em tempos, pois sei que o bichinho continua lá dentro á espreita.

09.Jul.08

OBRIGADA

No último post ficou por dizer que agradeço a todos os que me ajudam a enfrentar o dia a dia da melhor maneira. Os que me aconselham, apoiam e mostram novos caminhos. Aos amigos de sempre e aos que vou ganhando ao longo da jornada.

 

07.Jul.08

Ter ou não ter blog

quando me decidi a escrever este blog, fi-lo por duas razões principais, ou melhor, para obter dele dois objectivos. O primeiro tem a ver comigo própria, o blog é uma espécie de terapia de choque. Ao escrever sobre os acontecimentos mais marcantes na minha relação com o meu filho e o seu problema de hiperactividade, acabo por relembrar as situações já de cabeça fria, desdramatizando o que por vezes são momentos quase absurdos. É de certo modo um exorcismo dos meus medos e angústias, escrever liberta-me e dá-me energia.

O outro objectivo é mais para fora, para os que leêm, uma forma de alerta. Alerta para os pais que têm filhos hiperactivos e que os escondem (por vergonha, por desconhecimento ou por opção - não querer ver o problema) e um alerta para os pais que não têm filhos hiperactivos mas que pensam que os têm. Existem muitos assim, veêm problemas em tudo o que os filhos fazem, confundem hiperactividade com falta de regras e encontram nela uma desculpa para o pouco que investem na verdadeira educação das crianças.

Muitas vezes, no entanto, percebo que os que me visitam encaram este blog como um desabafo de uma mãe angustiada, deprimida, quase que me imaginam toda descabelada, sem tempo para nada, absorvida pelas duas pestes que destroem a casa, o carro e tudo por onde passam! Alguns que efectivamente entram em contacto comigo, manifestam o seu pesar por um filho tão difícil, dizem-me com astuta sabedoria que melhores dias virão, que o tempo ajuda e que tenha muita paciência. E claro que sentem pena de mim.

Talvez não tenham entendido bem. Eu não me sinto angustiada, muito menos deprimida. Tenho como todas as pessoas, dias melhores e outros menos bons. Sou por norma bem disposta e sorridente. Mantenho um óptimo casamento há 10 anos (será menos tempo devido á profissão dele mas a chama está viva e isso é o que importa).  Faço voluntariado numa associação local, trabalho as horas que o tempo me permite e consigo  manter uma rotina salutar em casa. Os meninos tomam banho a horas e jantam cedo, a casa não é nenhum monte de destroços. Sou prática o suficiente para manter as coisas limpas e arrumadas. Dou passeios com os dois e não os privo do acesso á cultura e ao lazer. Visitamos museus, vemos teatro, fazemos praia e picnik's. Eles são vivos e inteligentes. O Rafa tem um QI superior á média e o Francisco é adorável!  Temos momentos hilariantes e sou tão criança como eles.

Tenho é certo uma dose de paciência e resistência muito para além do normal. Reconheço que para manter tudo a funcionar,  o meu esforço tem de ser maior do que o necessário para a maioria das pessoas. Talvez existam poucas capazes de abdicarem de saídas á noite, dos jantares com amigos, de um sofá italiano e um plasma na parede. Talvez  poucas mães encarem como normal ter um colchão na entrada da sala, ou terem uma mesa de esplanada que serve como mesa de refeição para o filho poder sujar sem estragar a mobília. Talvez poucas mães entendam uma birra de duas horas porque o tal filho não consegue vestir uns boxers e insiste em sair de casa sem a dita peça interior. Ou porque apesar de gostar muito de andar no futebol e a inscrição ser paga, ele resolve desistir duas semanas depois. Talvez poucas estejam na disposição de aguentar os olhares inquisidores das outras pessoas, quando num local público ele resolve atirar comida pelo ar ou chama nomes ás empregadas dos restaurantes. Talvez poucos entendam!

Mas eu entendo, eu aceito. Aprendi a lidar com as coisas sem me preocupar com o que dizem os outros. Sem deixar de fazer ou de mostrar.

Porque é possível lidar com a hiperactividade.  Sem ficarmos desgastados.

O que me desgasta são os que não entendem!

 

Desculpem, não sou mal agradecida. Adoro que me ajudem com dicas e estratégias. Que partilhem experiências ou que mostrem outros pontos de vista. Simplesmente detesto que tenham pena de mim.

 

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