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Energia a Mais

A Hiperactividade vista à lupa

Energia a Mais

A Hiperactividade vista à lupa

07.Set.10

Vou tentar

 

 

ser sucinta! mas se de repente aparecer um post assim para o extenso....

 

não se assustem!

 

para contar o que se passou connosco no fds passado, mesmo com boa vontade, tenho de fazer um texto longo!

 

Conhecem o conceito da tragi-comédia?

 

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

A tragicomédiaé um subgênero teatral que alterna ou mistura comédia, tragédia, farsa, melodrama, etc...

 

Aristóteles (384 a.C. - 322 a.C.), no primeiro capítulo da Poética (1,6), faz uma aproximação entre a tragédia e a comédia, mostrando que ambas se servem dos mesmos meios - mesmos ritmos, cantos e metros. Mas é provável que Plauto (254 a.C.-184 a.C.) tenha sido o primeiro a empregar a palavra "tragicomédia" definindo-a como um gênero híbrido de comédia e tragédia, conforme explica através do personagem Mercúrio, no prólogo, de sua peça Amphitryon:

"O que é isso? Vocês franziram a testa porque eu disse que ia ser uma tragédia? Sou um deus, e posso mudá-la; se vocês quiserem farei da tragédia uma comédia, com os mesmos versos, todos eles. Querem que seja assim ou não? Mas que bobo que eu sou! Como se eu não soubesse o que vocês querem, eu que sou um deus! Sei o que existe na cabeça de vocês a respeito disso. Vou fazer com que seja uma peça mista: com que seja uma tragicomédia porque não acho certo que seja uma comédia uma peça em que aparecem reis e deuses. O que vou fazer, então? Como também um escravo toma parte nela farei que seja, como já disse, uma trágico-comédia." (PLAUTO, Amphitryon, 52-63).[1]

Essa mistura ou alternância de estilos ocorre em várias peças gregas e romanas, como o Alceste [2] de Eurípides (c. 485 a.C.-406 a.C.), que, em razão do seu "final feliz" e pelo tom levemente humorístico de algumas passagens, é vista por alguns eruditos como um drama satírico ou uma tragicomédia - mais do que como uma tragédia.

 

 

Esta é a minha visão do fim de semana, depois do relato deixem a vossa...

 

Durante todo o dia de sábado, tive de aturar um Rafa cada vez mais saltitante, diria euforicamente saltitante, com a perspectiva do novo ano escolar. Ele por norma é sempre «saltitante»  mas desta vez, ele juntou todo o novo material escolar para companhia! passou a andar de mochila às costas para todo o lado e mesmo com ela cheia, dava saltos, fazia piruetas, jogava psp, salti-comeu, salti-lavou cara e dentes, etc...

 

Entre a azáfama de tentar manter a casa funcional e os bruscos modos do Rafa para com o mano, andei num rodopio, atenta contudo ao mais novo que consegue cada vez mais proezas em menos tempo. Deixo exemplos - minutos: não mais de 3; local: casa de banho; estragos: vários cremes e pinturas abertos e espalhados pelo corpo, chão e espelho, sabonete na sanita, papel higiénico desenrolado...

 

Estive muitas vezes em exercício de respiração a fim de acalmar o meu estado de nervos, alternando com inúmeros «ataques» de limpeza frenética a tudo o que eles iam sujando...a meio da tarde reparei que cada vez que o Rafa ia à janela da sala, fazia caras de horror, ao que aliava gritos estridentes, muitos gestos e uma série de corridas pela casa, seguido pelo Quico que não sabendo o que se passava, também gritava, gesticulava e corria mas sempre perguntando «que é mano? que é?»

 

Ora quando dei conta de que a coisa estava descontrolada e o Rafa ameaçava vomitar no chão da sala, resolvi investigar. Olhei para baixo, para o terraço e deparei-me com uma visão macabra...

Já vos falei aqui de uns vizinhos do terraço que mantinham dois cães negligentemente, sem qualquer assistência...pois o alvoroço do Rafa era porque viu duas enormes poças de sangue, no chão junto a um dos cães...Verificamos que o cãozinho mais novo estava em agonia, deixando sair sangue em vez de fezes...um terror! Ora segurar os meus rapazes foi um suplício, o Quico porque queria ir salvar o cãozinho, o Rafa porque tem tanto pavor de sangue que não parava de gritar histericamente!

 

Ainda fui a casa da vizinha de cima para que fosse comigo ver o que se passava, cada vez havia mais sangue...por onde o cão se arrastava. Tocamos imensas vezes à porta mas ninguém nos atendeu, fiz umas chamadas para contactos da protecção animal aqui da zona mas pelos vistos, ao fds não funciona... Assistimos à agonia do pobre bichinho sem poder fazer mais nada a não se deixar uma nota escrita por baixo da porta, avisando os donos que tinhamos conhecimento e ou tomavam medidas ou tomávamos nós (isto ainda não acabou, o cão foi retirado pelo senhor da limpeza na segunda feira de manhã, o chão foi limpo também nessa altura, dos donos nem sinal, nem esclarecimentos alguns...)

 

Claro que foi um martírio acalmar os miúdos e a hora do jantar e do deitar, por norma sempre agitadas, foram ainda mais «doidas». O Rafa quando está muito nervoso, tem hábitos característicos de algumas patologias de que sofre e costuma bater com a cabeça nas paredes, arranhar-se ou mandar murros na barriga, assobiar, correr e tem ataques de riso descontrolado, prolongados. Ora estão a ver o filme? O Quico acaba quase sempre por imitar o irmão na maior parte das coisas...portanto! casa «caotica», noite daquelas!

 

Domingo, tinha jurado a mim própria (depois do alucinante domingo anterior) que jamais ficaria em casa. Mas sabem quando o instinto nos diz uma coisa e nós teimamos em fazer outra?

Combinei com os meus pais sair no fim de almoço e pensei num local, não muito longe, onde existem uns museus abertos ao domingo - Arouca. Onde também se comem unsdoces maravilhosos! Mas de manhã o meu instinto dizia-me para me deixar ficar por ali mesmo, talvez apenas almoçar no shopping, antes do horário de «enchente», evitando confusões, optando por voltar a casa depois e tentar levar os dois até aos escorregas. E porque é que não segui o meu «sexto sentido?»...poisssss! devia...mas acabamos por fazer como estava programado.

 

O que dizer da viagem? hummmm, bem pois, sabem aqueles anúncios tipo «alucinante viagem pelo mundo de...»? Foi uma alucinante viagem, pelo mundo da hiperactividade...O Rafa estava tão eléctrico que não consigo descrever a quantidade e tipo dos disparates. Para além de ir em acrobacias impressionantes dentro do carro...Quando começou a fazer da avó uma vítima, puxando-lhe os cabelos, beliscando, empurrando o banco com os pés, já não havia condições para seguir viagem. Entramos então na espiral «ele diz, nós dizemos o contrário, ele diz novamente o contrário de nós, nós dizemos o mesmo que ele, ele contraria-nos...» Assim: ele «vamos embora!» nós «agora não, prometemos ao Quico ir passear, vamos até Arouca!» ele «não quero, quero ir embora, para casa!» nós «está bem, então vamos virar» e viramos mesmo, ao que ele grita «não, vamos até Arouca!». Percebem?A coisa resulta, o problema é que fizemos isso quatro vezes....até Arouca! De uma das vezes tive de usar a táctica de recurso, quando digo «ou páras de mudar de ideias, ou eu saio do carro...» ao que tive de juntar ao discurso, a prática! e sim, demoramos uma «eternidade» a chegar ao local...

 

depois lá veio o instinto avisar - não entres aí com eles! Ora não sei explicar porque me lembrei de visitar o Museu de Arte Sacra de Arouca! Pois, Arte Sacra...

que dizer da visita? bem, foi uma visita guiada, com «guia» mesmo - uma senhora já não muito nova, daquelas com discurso decorado e treinado por muitas visitas a guiar turistas de alguma idade, estudantes interessados ou profissionais da matéria...A senhora não estava preparada para dois putos como os meus...nem ela, nem ninguém!

Enquanto ela enumerava os valiosos objectos expostos (alguns peças únicas dos séc. XVI, XVII ...) eu só pedia a Santa Mafalda, padroeira lá do sítio que não me fizesse cair em desgraça...

Ora eles é que não queriam saber de preces! num grupo pequeno (além de nós, três casais e uma senhora, todos acima dos 50...) não havia maneira de não serem notados. Ainda mais porque durante o percurso guiado e enquanto a senhora, parando e apontado, debitava «este é um valioso tapete, peça única da Índia, datado do séc. XV, oferta ao rei tal, tal....»o Rafa ia gritando «dás-me este tapete?»enquanto saltava à frente dela...e o Quico ora gatinhava aos pés da senhora, imitando gatos e cães, ora corria esbaforido para se lançar para cima de uma cadeira do séc. XVII, gritando «vou dormir uma sesta!».

Foram várias as vezes em que tentamos desviá-los das atenções mas as emendas eram sempre piores...tipo «olha Quico, vês esta estátua, é um santinho, o S.Tiago» ele«é um bombeiro mãe?» porque achou semelhança entre uma lança do santo e uma mangueira (!) além de que avistou um quadro que retratava o incêndio que destruiu o antigo mosteiro...e embora eu lhe diga «não é bombeiro mas ajudou a apagar fogos...» ele continua a gritar por cima da voz da mulher «é bombeiro, sim! é um bombeiro, sua vaca!» Ou quando a minha mãe dizia ao Rafa «olha querido, vês a santa Mafalda? pede-lhe uma coisa boa...» e ele «olha pede tu, isto não presta para nada...»

 

para cúmulo, a certa altura, os dois começaram a empurrar a senhora, com frases do tipo «ai...isto não acaba?» e «vá, lá despacha-te, não precisas explicar tudo!»

Penso eu que a visita terá demorado menos do que o normal, pois quase corríamos atrás da senhora, enquanto ela só apontava, já sem parar  «ali eram os claustros, onde as noviças....»

 

Quando a visita acabou, eu só me imaginava sentada numa esplanada, bebendo algo fresco para arrefecer as ideias, só que o Rafa iniciou o «round» dois! Quando fiz a pesquisa na net, tentando pormenores do dito museu, ele, em cima de mim, apercebeu-se de outro museu na zona. Segundo a descrição, um museu de trilobites, animais pré-históricos do tempo dos dinossauros, descobertos naquela área e que acolhe os fósseis dos ditos...E o que é que o Rafa reteve desta informação? Fosséis, dinossauros...bem lá no meio, andava a tal trilobite...que ele julgava ser assim um nome, técnico! e a possibilidade de escavar...

 

Ora, trata de perguntar  à senhora da bilheteira da Arte Sacra, o local, trata de «birrar» que temos de ir e nem o instinto me valeu! Dez quilómetros e muita curva depois, lá estávamos a parar no Museu das Trilobites de Canelas (Arouca).

Primeira desilusão - era uma minúscula casa de ardósia, no meio de uma escarpa de ardósia, algures nas ardósias da serra...Segunda desilusão, não era permitido ver as escavações...

 

Sempre imitado pelo irmão, o Rafa desata a disparatar sob o olhar recriminador da senhora na entrada que só dizia «haaaa, não podes falar alto, então isso são maneiras? olha, tens de ficar quieto!»

Finalmente quando saiu o grupo (família) que estava a fazer a visita antes de nós, iniciamos por uma salinha onde era suposto ver-mos um filme para perceber quem eram as Trilobites, como foram encontradas e a importância da recolha dos seus fósseis...Completamente descontrolado pela frustração de nada daquilo ter a ver com dinossauros, o Rafa limitou-se a estragar qualquer possibilidade de visualizar o filme, pelo que passamos rapidamente pela mini exposição dos bichos fossilizados (onde se inclui a maior espécie do mundo encontrada até agora...) e saímos em passo de corrida,perante o olhar agora de absoluto espanto da tal senhora que referi...tempo total da visita - 10 minutos...

 

A parte pior ainda estava para vir...totalmente inconsolável e caindo na típica agressividade pela qual descarrega a energia-a-mais, o Rafa insistia que tínhamos de ir lanchar, o que se tornava difícil dado que só na povoação principal existiam sítios para isso...como não conseguia satisfazer essa necessidade no imediato vingava-se, rasgando o tecido do banco do carro com um pedaço de ardósia que trouxera, batendo com os pés em toda a gente, gritando e berrando tanto que nem era possível ouvir-mos os próprios pensamentos...

 

Cansado de o mandar parar com aquilo e por causa dos estragos no carro, o meu pai às tantas, parou bruscamente, abriu a porta traseira, agarrando-lhe as pedras para as jogar fora. A cena é indescritível - avô e neto em total momento de pancadaria, a minha mãe aflita com os dois, eu tentando parar os três e o Quico coitado assistindo a tudo...Valeu que estas situações não são desconhecidas para nós e por isso, em vez de continuar até uma qualquer tragédia, resolvemos fazer como no reiki...Deixar a energia fluir, respirar lentamente, manter a cabeça no lugar, fiz o Rafa entrar no carro, pedi desculpa aos meus pais, perguntei ao Quico se estava bem e obrigamo-nos a seguir viagem... 

 

Chegamos mais mortos do que vivos, até porque ainda nos vimos em apuros quando, numa localidade aqui perto a polícia nos apareceu pela frente (o que daria por certo um outro post, caso nos tivessem mandado parar).

Depois de tudo o que se passou e quando a noite já ía «entradota», o meu filhote, por entre lágrimas de arrependido (sinceras mas infelizmente de curta duração) lá me dizia «sabes mamã, eu até me quero portar bem! mas não consigo...não sei porquê...»Pois....mas eu sei, filho, um dia também vais entender e conseguir sozinho dar a volta...e só por isso, a mãe acaba a noite a rir com as aventuras do hilariante «madagascar», entre voçês, mãos entrelaçadas, momentos tão fugazes que temos de aproveitar ao segundo...

 

 

 

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