saber valorizar
uma das lições mais úteis que tive de aprender....
valorizar cada momento não é sinónimo de «desligar» ou mesmo «não ligar» ao que existe de menos bom, tanto na vida em geral, como em cada acção. Valorizar tem para mim um significado semelhante ao relativizar - tudo é relativo, quer nas tragédias quer nas venturas - nada é eterno, nenhuma situação da vida fica para sempre estática...
Significa isso, na minha visão das coisas que devemos sempre pensar no momento, viver esse momento, valorizando o que realmente importa - retirar o que é supérfulo, relativizar tudo o resto....
Os últimos acontecimentos da minha vida, mais uma vez, vieram dar razão ao que sinto, na verdade, confirmaram o que para mim é uma filosofia de vida...um dia temos, noutro não...um dia alguém faz parte deste mundo e do nosso convívio, noutro, deixou simplesmente de cá estar...o que fica então - os momentos - os de valor! e o que deles se aproveitou. Infelizmente para muitos, serão poucos esses momentos vividos, ficará então apenas um vazio...
E é assim, por tudo o que vivo, pelas lições que vou tendo no meu caminho que acredito no sentido dos meus actos. Um dia...por mim, pela minha família, pelo Rafa, especialmente, resolvi que tudo o que acontecesse seria vivido por si só, em cada momento teriamos de ser capazes de reflectir sobre o que deveria ser valorizado, tirar daí uma nova lição para não repetir o erro, se fosse esse o caso, ou saborear de novo um bom momento, se tal fosse o motivo!
E em cada etapa da vida, vamos pondo isso à prova....
O Rafa tem, como todos afinal, bons e maus momentos...qualquer criança com PHDA tem bons e maus momentos (não dias, não períodos - momentos - isto é num só dia existem muitos momentos diferentes). Por vezes levanta-se super bem disposto, falador, alegre e descontraído...meia hora depois esta insuportável, grita, chora, pontapeia....depois pode ter um ataque de riso incontrolavel, uma fúria consumista, ou simplesmente extravasar a sua energia dando corridas, mexendo-se sem parar, falando pelos «cotovelos». Como está pouco tempo com cada actividade, os momentos de «descanso» são poucos...
No sábado estive de serviço de manhã e quando cheguei a casa, estavam os dois mais o avô nas batalhas dos tais bayblade, numa brincadeira eletrica mas «normal» dentro dos padrões tão carateristicos. Fui fazendo a vidinha caseira, aproveitando para os levar fora de portas quando o sol espreitou, pois sei por experiência que não conseguem ficar muito tempo no mesmo sítio. Andamos, levamos uma bola, demos umas corridas, fizeram umas piruetas, o tempo fechou, voltamos a casa...Andaram nos habituais risinhos, amuos, falinhas mansas, outras vezes vozes grossas...o habitual!
mais tarde, no entanto o Rafa reparou que ainda não tinhamos escolhido um novo par de sapatilhas (algo que tinha ficado para o fds sem ter havido combinação prévia de dia certo...) as dele estavam nas últimas, o mano também precisava, afinal eu dissera isso mesmo, portanto teríamos de ir comprar umas naquele momento...Ora, para mim, o momento não era o adequado - muito perto da hora dos banhos e jantar, mãe cansada e filhos eufóricos não é uma boa combinação para se ir a um shopping...
E pronto, desancadeia-se um momento de crise. O Rafa muito agitado, depressa se descontrola, a impulsividade que o caracteriza toma conta de cada gesto, cada palavra e omite o pensamento. Pura e simplesmente o Rafa não consegue parar - nem para respirar...não nos ouve, grita histericamente, quase sufoca por querer falar ao mesmo tempo que se agita, puxa os seus próprios cabelos, bate com os punhos na parede, bate com os pes, tenta puxar quem se aproxima...enfim, uma aflição. Momento doloroso.
Desta vez o Quico quis vir para o meu colo, assustado e mordendo os lábios. Detesto que veja o irmão assim, eu sei que ele sofre.... E lá fiquei com o mais novo ao colo, tentando dissuadir o mais velho, ignorando os seus gritos e puxões, gestos descontrolados, apenas mantendo o meu olhar no dele, tentando falar num tom audível mas muito mais abaixo do dele, mantendo a minha vontade inicial - escolher outro momento para a compra.
Obrigar o Rafa a parar sem lhe tocar de forma agressiva é complicado. Mas é possível, se conseguir manter a calma, não deixar que agrida o irmão, se o fizer sair do sítio onde inicia a «crise», mudar o ambiente provoca sempre uma desacelaração. E ao fim de mais de três quartos de hora, conseguimos. Ele foi acalmando, molhou o rosto na água, respirou mais calmamente e superou a crise....Fiquei muito orgulhosa dele e disso-lho. Para mim esse foi o momento mais importante daquela birra - já notei isso nas últimas situações semelhantes, o Rafa parece estar mais consciente de que tem de fazer um esforço para se controlar. Isso é digamos, uma vitória! Dificilmente isso acontecia num passado recente - o Rafa parava por exaustão da situação em si, não de forma consciente - isto é um sinal de que toda a estratégia motivadora e baseada num reforço do seu comportamento positivo, está a resultar! aos poucos é certo, mas está a dar resultado!
E assim, mais uma vez, acabamos uma birra com uma boa risada cúmplice, sem punições, muito pelo contrário, com uma palavra de afecto e com a certeza de que o momento de comprar as sapatilhas novas vai ser apreciado como deve ser!
E sim, no Domingo lá tivemos outra vez bons e maus momentos, gritos e birrinhas, brigas de loucos e brincadeiras doidas...mas faz parte não é? e para descomplicar ainda mais e mostrar como devemos tirar partido do que realmente importa, tenho o Quico a dizer, enquanto saboreia uma tosta mista caseira e um suminho à maneira «haaaaa, isto sim, é Vida!»