encontrei na net um texto de opinião sobre os famosos TPC, o qual resolvi transcrever, mencionando desde já a sua autora, a Prof. Fátima Lopes cuja especialidade é a Educação Especial. Não tendo sido escrito por mim, posso dizer que não tiraria ou acrescentaria mais nada, caso o tivesse sido, tal a semelhança de opinião que tenho com a citada Professora
O tema dos TPC foi sempre polémico e é, cada vez mais…menos consensual!
Questiona-se se se devem mandar trabalhos para fazer em casa, muitos ou poucos, sempre ou às vezes
- Devemos mandar trabalhos escolares para casa? Muitos ou poucos?
- Todos os dias ou só às vezes?
- Os trabalhos são todos corrigidos ou só “vistos”?
- Devem os pais ajudar? Devem os pais ensinar ?
- Quais as vantagens e desvantagens destes trabalhos?
- Quanto tempo devem ocupar os tais deveres dos trabalhos de casa?
Do ponto de vista dos professores, raros são os que não exigem muitos trabalhos de casa e esses nem sempre são bem vistos pelos pais e pelos próprios colegas; já o mesmo não se pode dizer dos alunos que os referem ou comentam como “ ele/a é fixe não manda muitos trabalhos de casa” ou “ ele/a não bate nem nos deixa de castigo por causa dos trabalhos” “ ele/a deixa-nos escolher o trabalho e dá-nos coisas”.
Do ponto de vista das famílias muitas ficam angustiadas com a resolução dos trabalhos de casa. Obrigam o filho a fazer os trabalhos nem que ele chore ou suplique, nem que vá mais tarde para a cama? E quando ele não os consegue fazer? Deve insistir e tentar ensinar, obrigar a fazer como sabe ou fazer-lhe os trabalhos e pronto?
Há famílias que entram em ruptura, porque, entre os elementos do casal existem opiniões diferentes: Um quer que se exija, outro que se desculpe ou facilite e há ainda a criança que passa a fazer xixi na cama, a vomitar a não querer ir para a escola …têm medo! Muitos pais chegam a pedir ajuda a psicólogos e psiquiatras porque o seu filho tem problemas na escola.
Há ainda pais que querem que os professores passem mais trabalhos para casa, tanto para os manterem mais ocupados como para “puxar” mais por eles! E se os professores não passarem passam eles e com que grau de exigência!
E no ATL (Actividades de Tempos Livres) devem fazer os trabalhos de casa ou não? Durante muito tempo? Quanto? Com ajuda da monitora ou dos seus colegas? Ou não?! Ainda há pais que querem acompanhar os filhos nestes trabalhos para os verem desabrochar e sintonizarem as suas dificuldades!
Ora bem: Agora dou eu a minha opinião!
Eu sou aquela de que muitos dizem “cuidado que ela é contra os trabalhos de casa!”
Mas que TPC?
Eu sou contra os trabalhos para casa que pouco contribuem para o desenvolvimento do aluno, que sendo em grande quantidade (muitas vezes são tantos que a criança não conseguiria realizar numa manhã de trabalho junto do seu professor) se tornam um castigo. Sou também contra os trabalhos de casa que o aluno não possa realizar de forma independente por não os compreender ou não ter capacidade ou condições para os resolver e, por isso, se tornam um pesadelo! Sou ainda contra os trabalhos de casa do “verbo encher”, como por exemplo: grandes cópias para quem não precisa de aperfeiçoar a caligrafia ou não é prioridade porque tem outras dificuldades para ultrapassar; escrever os números até 1000, um a um, de uma assentada só; escrever as tabuadas todas repetidamente, ler uma “lição” (texto) nova e responder às perguntas do texto que, no dia seguinte, será corrigido na sala de aula! Desculpem lá mas o processo está invertido: Primeiro o professor deverá apresentar e explorar o texto com os alunos e só depois poderá propor a construção de novos textos, novas ideias e sistematização das novas aprendizagens! A qualquer momento posso explicar o porquê destes contras!
No entanto, sou a favor dos Trabalhos de Casa quando eles servem para:
- Responsabilizar os alunos por compromissos.
- Envolver os vários intervenientes e contextos no processo de aprendizagem da criança.
- Sistematizar aprendizagens significativas, ajudando a recuperar dificuldades.
- Estimular a criatividade.
Assim sendo e porque não podemos esquecer que as crianças e jovens necessitam de tempo para brincar, jogar, ouvir música ou, simplesmente, não fazer nada, sugere-se que:
- Os trabalhos sejam significativos.
- Não ocupem demasiado tempo do tempo livre que têm.
- Tenham um carácter livre, responsabilizando o aluno ao mesmo tempo que o incentivamos a fazer alguma coisa significativa.
- Se promova os grandes ou pequenos esforços feitos na realização dos mesmos.
- Se reconheça publicamente (turma e família) quem os faz, seja elogiando ou divulgando o produto.
- Aos alunos que não são sensíveis a este tipo de incentivo, recorrer a outras estratégias tipo contrato de trabalho.
- Haja um dia da semana sem TPC, dia esse a escolher com os alunos e/ou outros intervenientes (pais e ATL).
Algumas sugestões de TPC significativos e que se podem tornar muito criativos:
Eles podem ser de carácter individual ou de grupo:
- Investigar as histórias da terra, receitas culinárias, rezas, responsos, etc..
- Construir um diário (não secreto) durante uma semana ou um mês.
- Construir um livro sobre curiosidades.
- Construir um livro da matemática.
- Construir um livro de palavras difíceis, um dicionário ilustrado, etc..
- Construir um “Livro da Vida” com a sua identificação, o seu desenvolvimento e as suas preferências (amigos, jogos, animais, comidas, etc.)
Estes são trabalhos que dão trabalho aos alunos, professores e outros envolvidos, mas donde resultam produtos significativamente interessantes, muito ricos em vivências e que não se deitam fora quando o caderno acaba.
Mais tarde serão recordados e unem os vários elementos envolvidos no seu processo de aprendizagem.
Ora, tendo em conta que para uma criança como o Rafa, portadora de PHDA, os TPC são uma verdadeira tortura, sempre tive uma batalha dura para que ele fosse sendo cada vez mais responsabilizado e se mostrasse motivado para os fazer!
Acreditem que houve dias, momentos, em que quase enlouquecemos eu e ele...tanto porque não tinhamos uma estratégia de acordo, como não conseguiamos sequer, chegar a ela...é impossível colocar um hiperactivo sentado a fazer TPC num final de dia, precisamente na altura em que a medicação deixa de actuar e a descompensação é evidente.
O Rafa fica simplesmente insuportável...a sua energia natural «travada» pela medicação, volta ao fim do dia, multiplicada por 100! Tudo é motivo para explodir - um simples aviso de «anda fazer os TPC» é suficiente para que entre em combustão. Mantê-lo sentado e atento não é sequer possível. Por isso, arranjar alternativas de trabalho sempre foi uma prioridade. Claro que tive a «cumplicidade» da professora, ela sempre compreendeu o problema e sempre se mostrou interessada em ajudar a resolver as dificuldades. No primeiro e segundo ano a estratégia passou por haver um acordo em que o Rafa, sempre que não fazia os trabalhos em casa, ou não os conseguia terminar, podia fazê-los na escola - claro que isso acontecia porque, ao contrário de muitas crianças com PHDA, o Rafa não tem dificuldades de aprendizagem. Ele consegue fazer os trabalhos se estiver calmo e concentrado, o que com a ajuda da medicação, nunca foi problema. Também é muito rápido a fazer as coisas (o que por vezes leva a erros...) e por isso conseguia mesmo assim, manter-se ao nível dos outros. Apenas da parte da tarde se torna mais difícil trabalhar com ele, quando o efeito do concerta já não se faz sentir tanto...mas com uma dose ajustada e uma toma baseada no número de horas das actividades lectivas é posível controlar.
A partir do terceiro ano, com ajustes na medicação e a introdução do risperdal à noite, o Rafa consegue ter momentos mais calmos antes de ir para a cama. Então passou a ser mais fácil fazer TPC, desde que o estímulo para os completar seja suficientemente forte. Quero eu dizer que se os TPC forem por exemplo fazer uma cópia, inevitavelmente (mesmo agora no quarto ano) o Rafa se distrairá tanto que nunca a vai conseguir terminar...mas se lhe derem como trabalho, pesquisar na net uma lenda sobre a «padeira de aljubarrota» ou sobre os pinguins, ele de certeza que os vai querer mostrar no dia seguinte.
Também não posso deixar de contar um episódio que marca esta «luta» com os TPC...um dia, o Rafa disse-me que queria uma maçã. Bem, pensei que seria para comer e realmente, cheirou-a, apalpou-a e comeu-a. Depois olhou para mim e disse-me «mãe acabei o meu TPC de hoje, acreditas? consegui fazer até ao fim...amanhã, quando a professora perguntar posso dizer que fiz!» achei estranho «como? então quando fizeste os TPC? onde estão? não vejo nada no caderno....» e ele rindo super feliz «estão na barriga, comi-os...» devo ter ficado azul «hãn?» e a explicação «a maçã, mãe! hoje o TPC era comer uma maçã e amanhã temos de falar sobre os cinco sentidos!» - ora digam lá se isso não foi uma estratégia fantástica da professora? não só pôs os miúdos a comerem fruta, como conseguiu uma forma brilhante lhes dar a matéria!