do que o medo de perder um filho...tenho a certeza de que a maioria dos pais pensa assim. A vida dos filhos é sempre algo de valioso e eterno, pois acreditamos que não os veremos «partir» antes de nós
Claro que felizmente para a maioria de nós, os dias sucedem-se sem que os pensamentos de tal medo nos invada a mente, pelo menos não a tempo inteiro. Sabemos que estão ocupados nos seus afazeres diários, escola, atividades, regressar a casa...afinal, a não ser em condições de exceção (doenças, acidentes) não tememos por eles, mais do que o «normal» temor
Mas quando temos em casa um pequeno «furacão» que desafia o perigo com a maior das naturalidades, começamos a perceber melhor aquela velha máxima de que a vida muda «num segundo».
O Quico sempre me deu muito que fazer, no que diz respeito à atenção que tenho de manter para que não se meta em apuros. Já por cá comentei da sua aparente ausência de receios e do fascínio que sente por janelas, equilibrismos e performances várias que incluem sempre muita energia e total falta de cuidado. Para ele não há que temer as alturas e nunca se sente incapaz de saltar por mais longa que seja a distância ou por mais alto que seja o obstáculo. Muitas outras vezes, decide-se a avançar estrada fora, tentando inverter o sentido dos automóveis que passam...
Quando se sente bem, faz «habilidades» que nem os mais destemidos fariam sem muito treino, quando quer chamar a atenção de alguém, é às sua aptidões físicas que recorre...quando está zangado ou frustrado, faz questão de demonstrar todo o seu potencial. Nesta última semana andou particularmente enérgico, elétrico tanto em casa como na escola. Escusado será dizer que trouxe as habituais «bolinhas» do comportamento a vermelho...aliás todos os itens a vermelho, pois quando anda mais eufórico, a sua concentração e motivação para o trabalho na escola é ainda menor.
Num dos dias ficou de castigo por ter estado a fazer asneira na hora de almoço na cantina, jogando comida com outros dois miúdos e acabando por sujar até o teto com massa. Ora é evidente que o castigo foi merecido e o ter de limpar as mesas foi entendido como algo que serviu para mostrar que a escola é um espaço para ser respeitado e quem não cumpre as regras deve sofrer consequências. Neste caso, sujou -teve de limpar. Mas este castigo, aliado à pressão de não conseguir terminar as tarefas diárias na sala de aula, o não conseguir manter-se mais sossegado, foi acumulando e ao final de quinta feira explodiu de forma violenta...
O regresso da escola foi super atribulado. Como às quintas ele sai da AEC às 17h30, coincide com o meu horário de saída, pelo que o regresso a casa é feito comigo. Pois no carro, revivi cenas que passei com o mais velho, como o andar aos pontapés a tudo, virar a cadeirinha, ter de o segurar para que não se atirasse para a frente, tapando a visão do avô que conduzia.
Quando entramos no prédio, ele vinha exaltado e com vontade de fazer estragos. Num repente passou a perna para fora do corrimão da escadaria, ficando praticamente suspenso do lado do fosso que dá para a garagem, a dois pisos de altura...foi arrepiante. Num impulso tentei tirá-lo de lá agarrando-lhe a mão mas perante a minha aflição ele ficava cada vez mais histérico e puxava a mão com toda a força fazendo com que se afastasse da zona onde ainda lhe podia chegar. A imagem que tenho é a de pensar naqueles segundos que me pareceram uma eternidade, que a manga da camisola que eu tentava a todo o custo prender, acabaria por solta-se e a queda dele seria fatal. Um medo maior apoderou-se de mim...a ponto que nem me lembro de como de repente, ele passou para o lado de dentro do patamar!
A crise de choro que ele teve já na hora de deitar, depois de muito braço de ferro contínuo, foi para ele, a expulsão final dos nervos acumulados e da tensão que viveu nesse dia...eu, tremi por mais duas horas debaixo do edredon e não era o frio que me fazia tremer...