se há coisa que continua a suscitar em mim uma dúvida imensa é a validade da punição numa criança com PHDA...
Não que eu não entenda a necessidade de diferenciar o bem do mal, de mostrar o que está errado e definir regras e limites. Caso os meus filhos não estiessem diagnosticados com perturbação de hiperatividade, teria eu outra postura...bem mais branda certamente, pois tenho a noção de que cá em casa, o regime é quase «militar». Desde a hora de «recolher», à hora de despertar, tudo tem uma sequência e uma estratégia bem montada. Nada do que faço aqui em casa, quer em termos de regras, quer em métodos, é feita ao acaso - claro que até encontrar a que funciona, pode demorar algum tempo e muitas das vezes os erros que cometo, servem para melhorar a próxima tentativa.
Demorei muitos anos a afinar este tipo de organização, dentro do caos que provocam dois miúdos com hiperatividade, acho que me safo bem. A mim eles obedecem, acredito que sintam o meu pulso e que sabem os limites - como qualquer criança muitas vezes esticam a corda mas se assim não fosse, não seria «normal». A principal ferramenta que uso é a coerência. Tento ser o mais coerente possível, se lhes peço que não gritem, não vou eu gritar com eles, certo? se lhe digo que não podem faltar-me ao respeito em termos de linguagem, não vou eu dizer meia dúzia de palavrões para os chamar à atenção, verdade? Se exijo que respeitem a hora de deitar e as rotinas de higiene e de sono, não vou estar a fazer diferente deles, claro! e, obviamente (pelo menos penso assim) não vou usar a palmada, o bater, a violência, por sistema, se o que quero é que não sejam agressivos e que aprendam a usar a palavra em vez do confronto físico...
E mesmo que isto obrigue a anos de «treino» eu sei que alguma coisa vai de certeza ficar para o futuro.
Desconfio que para muitos pais, isto seja encarado como permissividade. Para mim é resiliência. Sei que tenho de ter paciência, muita e que me cabe a mim ser resiliente. Esta capacidade de luta pode fazer toda a diferença!
Assim, como mãe de dois com PHDA, garanto que uso poucas vezes os castigos como forma de punição. E talvez por isso, quando aplico realmente um castigo, faço-o por distinguir o motivo, ou seja, não vou castigar os meus miúdos porque correm dentro de casa, porque saltam cadeiras, porque falam alto demais para os padrões «normais» ou porque não se conseguem manter quietos e sossegados mais de dois minutos de cada vez - aplicar um castigo por razões que são manifestamente consequências da sua PHDA não faz para mim qualquer sentido.
Se em casa isto resulta, o que dizer dos castigos que lhes aplicam na escola? Será que os entendem? será que o castigo vai funcionar como um alerta na cabeça deles quando da próxima vez cometem o mesmo erro de comportamento? as bolinhas vermelhas que o Quico traz como «castigo» pelo seu comportamento dentro da sala de aula, terão algum impacto no meu rapazinho?...a julgar pelo evidente à vontade com que me mostra o livrinho das bolas, não me parece que o veja como algo punitivo - até porque algo que se torna rotineiro deixa de ter efeito, certo?
E o Rafa? o castigo de lhe cortarem intervalos, não o deixarem jogar a bola ou mandarem escrever 60 vezes a mesma frase, tem algum poder dissuasor? duvido, caso assim fosse seria de esperar que por esta altura, nem sequer houvessem recados a avisar do seu comportamento «desajustado» dentro da sala de aula...
vamos entrar em mais uma semana de escola - mais castigos concerteza virão. Mais recados na caderneta...mais incompreensão sobre uma patologia que acreditem ou não, podemos controlar melhor com elogios e recompensas do que com castigos e punições!
Boa semana para todos