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Energia a Mais

A Hiperactividade vista à lupa

Energia a Mais

A Hiperactividade vista à lupa

27.Fev.14

se a escola manda castigos para fazer em casa

 

 

eu posso mandar castigos para serem feitos na escola?

 

O Quico tem trazido os famigerados castigos escolares, quase todos os dias. Para além de obrigarem o miúdo a escreverem a mesma frase as vezes que a professora entende, eu não reconheço qualquer eficácia na medida - caso fosse eficaz, já teriam dado resultado se nos baseramos na ideia de que servem para punir e evitar repetir a ação. Ora, por mais vezes que escreva «não posso brincar durante as aulas» (a últma das quais foi ontem e foram 50 vezes) ele continua a não entender «porquê», quais as razões pelo qual o castigo é esse, muitas vezes nem entende bem porque foi castigado, dado que na opinião dele não fez nada diferente dos outros colegas...explicar então o critério utilizado é ainda mais difícil - que posso eu explicar quando ele me pergunta «mãe, se a professora disse que com bolinha vermelha nós temos de escrever a frase 20 vezes e bola amarela 10 vezes, então porquê eu tenho de escrever 50?»

 

A questão que coloco muitas vezes a mim mesma é simples «o castigo é realmente útil para quê?». Penso que com crianças ditas «normais» punir neste contexto de escola, sobretudo quando o castigo é para chamar a atenção por um comportamento desadequado pode ter um efeito disuasor, pode servir para que a criança não repita o dito comportamento, pelo menos que o faça pensar as suas atitudes numa próxima vez. No entanto, quando se trata apenas de punir, nem nesses casos eu considero essa a melhor opção. Se estamos a falar de crianças como as minhas, dado que é a minha experiência, diagnosticadas com PHDA e para um contexto de caraterísticas distintas das crianças ditas «normais» então não tenho mesmo dúvidas de que um castigo destes nunca vai alterar nada!

 

No início do ano escolar, na primeira reunião da sala do Quico, os pais foram convidados a «discutir» com a professora, quais os castigos adequados, segundo o tal critério utilizado com as bolinhas (vermelho - mau comportamento, amarelo - comportamento algo desajustado, verde - bom comportamento). A ideia foi a de mandar para casa uma frase para escrever um certo número de vezes, a juntar aos TPC. Pelos vistos eu fui a única que achou a ideia absurda. Não me incomoda que haja «castigo» para que as regras e limites sejam bem definidos, numa sala com vários miúdos muitas vezes não se consegue evitar balbúrdia e os miúdos devem perceber que ultrapassaram o limite e que serão castigados por isso. Só não entendo é porque é o castigo tem de ser feito em casa - afinal se se portam mal na escola a punição não deveria ser lá? e no imediato? não seria mais útil por exemplo deixar de mandar frases para escrever e pôr os miúdos a ajudarem a limpar a sala, colocar livros em ordem na biblioteca ou arrumar materiais da sala, dando o exemplo de responsabilidade para com os colegas?

 

Se como mãe tenho de resolver a aplicação dos castigos em casa, porque é que a escola não faz o mesmo? Aliás em todas as palestras a que vou, fazem questão de nos repetir que os problemas de casa, são resolvidos em casa...parece que o mesmo teria de ser aplicado à escola - a eficácia seria outra tenho a certeza! Já imaginaram como era se eu na tentativa de «castigar» o Quico por uma das suas caraterísticas patológicas, que é não conseguir ficar quieto, mandasse a frase «não posso saltar no sofá» 50 vezes para ele escrever na escola, sob supervisão da professora?!

É que sinto este tipo de castigo como uma total falta de compreensão desta perturbação, diagnosticada por mais do que um médico diferente, há mais de um ano. No caso do meu filho, para além de ter de fazer um esforço extra para conseguir fazer um miúdo com PHDA, repetir tantas vezes a mesma frase, ainda tenho de lidar depois com a dificuldade dele em fazer os TPC...o tempo que tenho de disponibilizar para o castigo, interfere e muito na rentabilidade das tarefas seguintes (e se fizer o contrário, o mesmo também acontece pelo que o castigo fica por fazer...)

 

Assim sendo e porque de nada valem os meus «protestos» o Quico tem estado até mais tarde a tentar fazer os trabalhos o que acaba por não conseguir, tendo por isso de terminar as tarefas no dia seguinte pela manhã - algo que obviamente, tendo em conta as rotinas cá de casa, é uma exigência quase impossível de cumprir!

 

Fico cada vez mais desapontada com este sistema que continua a apostar na punição em vez de reforçar a medida educativa pela positiva, um dia destes faço um post com um exemplo prático da aplicação desta estratégia na sala de aula, só para verem o que quero dizer...pois a verdade é que parece que ninguém entende como isto funciona na prática! 

 

 

 

 

17.Fev.14

a retoma

 

 

da medicação, após a nova consulta do Quico está a ser mais dífícil do que pensava

 

 

os efeitos indesejáveis do meltefedinato, agora em ritalina 20mg, depois da primeira semana, continuam a ser notados. Dores de barriga, dores de cabeça, ausência de apetite...o Quico fica realmente mais atento e durante a manhã parece estar bem mais quieto. Mas para mim, ver a sua habitual boa disposição substituida por queixas não me faz sentir tranquila. Mesmo que da escola não venham os odiados recados, pesando o conjunto na balança, eu preferiria muito mais um Quico irrequieto, insatisfeito, saltitão, pouco atento a tpc...sem o ouvir perguntar a todo o tempo «mas porquê eu tenho de tomar esse comprimido mãe? doi-me a barriga, não quero comer, nem a lasanha...»

 

Será que as alternativas para uma PHDA, tendo em conta esta especificidade de cada caso, se esgotam, no que diz respeito à escola, na medicação? No caso do Rafa, nunca duvidei de que necessita da medicação, os resultados e reações dele próprio sempre reforçaram essa decisão médica. Mas no caso do mais novo, tenho mais dúvidas que certezas, até porque o neuropediatra fez questão de me explicar as diferenças entre os casos e aponta a imaturidade do Quico como o fator principal para as suas dificuldades de aprendizagem!

 

Por isso o Quico faz medicação apenas em dias de escola com interrupção nos períodos não escolares e como tem sentido muita falta de apetite (já tinha com o rubifen) o médico quer que faça maior controlo de peso nos próximos tempos e que faça um suplemento alimentar. Vamos ver mais esta etapa o que nos reserva na já longa batalha que nso afeta o dia a dia!

 

 

14.Fev.14

Celebramos o Dia dos Namorados

 

muito à nossa maneira...já que o que importa é mesmo o Amor!

 

 

tenho uns miminhos para os meus rapazes, também à mesa mas mais logo, faremos um festejo a preceito. Nunca deixo passar estas datas sem entrar no espírito - já sei que não é preciso datas especiais para lembrar a importância do Amor, que isto já é entrar no consumismo da época, enfim, nada me importa, gosto disto, pronto! se calhar é porque Dia dos Namorados a sério, festejado com o dito já há anos que não acontece (não é a mesma coisa à distância, garanto!) e por isso não perco a oportunidade de dar o exemplo aos meus filhotes para que o aproveitem um dia mais tarde hehehe

 

 

 

os mimos doces...

 

e quem espreitar o meu face pode ver a ternura do Quico e o seu primeiro bilhete oficial do Dia dos Namorados!

 

 

 

 

 

12.Fev.14

Um «sistema» para todos

 

ou a tal escola «inclusiva»

 

no nosso país o sistema educativo tem muito que se lhe diga - vem do tempo da «outra senhora» e as sucessivas «reformas», têm sido feitas apenas com base em ideologias políticas, ao sabor portanto da dança governativa. Nos últimos tempos, com a entrada em cena do atual governo, voltamos a ter as tais «reformas». Sempre que isto acontece o que muda realmente? e muda-se para melhor?

 

Também gostava que me explicassem o conceito de escola «inclusiva». Incluir crianças com «diferenças» numa escola cujo sistema de ensino assenta no comportamento padrão, significa o quê? que essas crianças são tratadas tendo em conta as suas especificidades ou que simplesmente são incluídas numa padronização que não quebre rotas/metas pré-estabelecidas?

 

supostamente: 


«Uma escola inclusiva é aquela onde todos os alunos são aceites e educados em
salas regulares e recebem oportunidades adequadas às suas habilidades e necessidades.
O princípio orientador da declaração de Salamanca de 1994 é de que todas as escolas
deveriam receber todas as crianças independentemente das suas condições físicas, sociais,
emocionais ou intelectuais (Carvalho, 1998).
Segundo Ainscow e Wang (1997), a escola inclusiva não exclui aqueles que
possuem dificuldades severas, mas mostra-se aberta à diversidade e apresenta propostas
curriculares adaptadas às necessidades dos alunos.»

 

assim o diz o Tratado de Salamanca

 

Ora transpondo esta teoria para a realidade das nossas escolas é isto de facto que encontramos? para que as alterações tenham impacto, as leis devem regular e no nosso caso a lei é omissa. E quando falamos de crianças com PHDA nem lei temos...nesse caso como vamos garantir que a estrutura funcione? É por isso que continuamos a ouvir coisas como «o meu filho tem hiperatividade e por acaso tivemos sorte com o professor mas...» sorte? temos de esperar ter «sorte»?

 

Nos EUA as crianças com PHDA podem estar num espaço próprio que os acolhe em momentos de tensão (por exemplo antes de testes, quando o comportamento é mais instável) e onde podem simplesmente relaxar. Um espaço pensado para proporcionar a estes miúdos maior conforto através de métodos e técnicas simples como musicoterapia ou yoga com exercícios de relaxamento que os ajudam a descontrair, eliminar a tensão e regressar à sala de aula com a atenção mais focada para os trabalhos escolares. Na Finlândia, os alunos com PHDA são ajudados com terapia comportamental, em salas próprias, estudadas para que seja trabalhado com estas crianças as suas dificuldades em gerir por exemplo, o local de arrumação dos materiais, a gerir o tempo das tarefas, a eliminar estímulos indesejáveis, etc. É possível por exemplo dividir as tarefas mais complexas em tarefas mais pequenas, intercalando com uma atividade lúdica orientada para o trabalho de memorização/concentração, ou que a criança esteja mais tempo de pé, trabalhando e reforçando rotinas e comportamentos.

 

Por cá a realidade é bem diferente. Ninguém diz que não concorda com a tal ideia de escola «inclusiva». No entanto, os docentes mencionam sempre o facto de terem alunos com comportamentos «perturbadores» como motivo para turmas com menor rentabilidade, garantindo que assim prejudicam o ritmo de aprendizagem dos alunos ditos «normais». E muito frequentemente marginalizam, consciente ou inconscientemente os alunos que demonstram certas dificuldades de aprendizagens, ou melhor dizendo, ritmos diferentes de percurso! Sobretudo, minimizam e rebaixam os problemas desses alunos e com frequência ostracizam as crianças, quer com comentários, quer com atitudes que revelam total falta de competência para o desempenho de funções tão delicadas como as de docente! Frente à turma, e falo por experiência própria fazem coisas como rasgar os desenhos dessas crianças porque não correspondem aos padrões, chamam o aluno de «preguiçoso», «burro», «incapaz» ou simplesmente ignoram o esforço maior que esses alunos fazem só para terem chegado ao fim de uma tarefa ou dos tpc...abundam os recados para os encarregados de educação sobre os comportamentos desadequados como «falar com os colegas, levantar-se constantemente, não terminar os trabalhos» mas nunca um único recado a anunciar «o seu educando conseguiu ler um texto sem ajuda, fez um desenho que está exposto na parede da sala, foi escolhido para tomar conta do animal de estimação da turma...»

E o espaço escolar? Nada de adaptações, o espaço físico das salas de aula não contemplam diferenças (não falo de rampas de acesso a deficientes motores ou casas de banho preparadas para cadeiras de rodas), quanto mais espaços individualizados, salas de auto-relaxamento ou materiais e recursos específicos...espaços que permitam uma atividade alternativa para a criança com PHDA quando está incapaz de acompanhar a turma, materiais que tenham em conta as suas dificuldades de motricidade fina, um local que sirva de refúgio para o relaxamento. Gostava por exemplo que alguém me dissesse qual o espaço utilizado para que a criança, perante um comportamento perturbador, possa efetivamente ser colocada, sem que para isso seja simplesmente expulsa da sala...é que não conheço nenhum caso concreto. Já casos em que a criança é colocada fora da sala (não sendo intervalo, fica simplesmente no corredor sem funcionária a supervisionar), fechada numa casa de banho ou até numa arrecadação (e sim, são casos verídicos, conheço os detalhes, nomes e locais e são muitos, não um ou dois...) isso conheço. Nem sequer vou falar dos espaços de recreio. Negligenciado tão somente é o que tenho a dizer. Como local onde melhor se fazem as aprendizagens a nível das competências sociais - o respeito pelos outros, o espaço social - e tendo as crianças com PHDA mais dificuldades nas relações inter pessoais, cumprimento de regras de conduta em grupo, este é um local onde maior quantidade de «problemas» surgem. Porque não existem estratégias, simplesmente. Não há um plano a ser seguido, ninguém que o implemente e que o monitorize...não se tem em conta sequer!

 

Isto é o que chamam de escola «inclusiva» no nosso país. Bem sei que esta situação de crise, com profundas alterações sociais que se vive em portugal, tem implicações. Que se fala em retrocesso com menos técnicos nas escolas, menos meios e menos recursos. Mas sejamos honestos, a crise não pode servir como desculpa para tudo o que vai mal. Nem o dinheiro é fator único na elaboração de estratégias de intervenção.

Se, ao invés de estarem absorvidos pelos seus problemas pessoais, os docentes se unissem em torno da chamada «escola pública», exigindo uma mudança sim mas na base - no que realmente importa, se lutassem por um sistema mais equilibrado, mais justo, mais virado para a cidadania, exigindo a revisão das tão proclamadas «metas curriculares» (cujos planos são elaborados por mentes seguramente elitistas e viradas para uma ideologia partidária) e questionassem os programas a que hoje em dia estão sujeitas as nossas crianças do ensino básico (para não falar da idiotice que grassa nos graus de ensino seguintes) então diria que pelo menso alguma coisa estaria a ser feita na defesa do ensino para todos. Infelizmente isso não acontece, mesmo!

 

Isto é apenas a minha reflexão pessoal sobre esta assunto, como mãe de duas crianças portadoras de PHDA e com mais de 10 anos a lidar de perto com casos de falta de acompanhamento nas escolas, como coordenadora de um grupo de apoio a pais da APDCH. Com todas as ressalvas e todas as exceções - que também as há felizmente! 

 

 

08.Fev.14

o próximo passo

 

nesta já longa batalha contra a PHDA será uma nova consulta para o Quico

 

é já hoje, veremos se há alguma alteração na dosagem da medicação e que estratégia desenhar durante os próximos tempos.

 

O Rafa também irá comigo, acho importante envolvê-lo nas consulats do irmão, até porque muitos dos exemplos partem dele próprio! não é fácil levar os dois a qualquer consulta - a esta então...mas tem de ser e claro já houve «negociação» prévia! espero sinceramente que tudo corra bem

 

o próximo passo será apenas (só) mais um, assim se vive com esta perturbação, um passo de cada vez!

03.Fev.14

onde é que já ouvi isto?

 

«o Francisco teve um comportamento perturbador, constantemente falando e brincando com os colegas durante a última semana o que impediu o normal funcionamento da aula. Se este comportamento se mantiver será feita uma ocorrência. Mais informo que a segunda ocorrência será levada ao conhecimento do diretor da escola e a terceira ao diretor do agrupamento.»

 

e de modos que é assim...desanimada com isto. Comportamento perturbador é o quê exatamente num miúdo com PHDA? de cada vez que temos um passo para a frente, levamos com dois para trás...o recado veio no fim de semana, poucos dias depois de ter tido uma conversa com a professora, onde me foi dito que «o Francisco melhorou em termos de aprendizagem...» e que «deveria usufruir de maior flexibilidade no modo como se lida com ele na sala de aula e nas exigências que lhe são feitas» nomeadamente a nível de comportamento esperado...

 

Já disse isto várias vezes, um comprimido não é «milagroso» e não significa que de um dia para o outro, tudo vai correr bem. Cada caso é um caso e o organismo de cada um, é único, reagindo por isso de modo diverso. O Quico sofre imenso com os efeitos secundários mais graves deste tipo de medicação. Está constantemente com dores de cabeça e abdominais, tem náuseas matinais, sofre com a perda de apetite total...não tem sido fácil ajustar a medicação - por um lado a necessidade de aumentar a dose, por outro a necessidade de manter controlados os efeitos mais indesejáveis...

 

Fruto com certeza dessa maior instabilidade, o Quico tem andado muito desmotivado em relação à escola e os progressos que se notavam antes (sobretudo o querer fazer os trabalhos na sala, os tpc, o ir para a escola sorridente e confiante) estão rapidamente a esmorecer! e eu também..confesso! isto apanha-me num momento de conjuntura pessoal desfavorável. Estou cada vez menos esperançada quanto ao meu futuro profissional porque as ideias esbarram invariavelmente no único ponto que interessa - o financeiro. Sem investimento não há ideias que avancem...

Junte-se o Rafa com as suas exigências e desgaste psicológico, o marido ausente e um andar dos anos que se fazem notar a cada segundo...

 

Não, decididamente este arranque de um novo ano, não trouxe bons ares para estes lados...e isto é já tão recorrente que descofio que «encalhei»!

 

e por isso o blog está também a «encalhar» de vez...