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Energia a Mais

A Hiperactividade vista à lupa

Energia a Mais

A Hiperactividade vista à lupa

21.Mar.14

Temos Poesia!

 

Contributo do Quico para assinalar este dia (poema declamado na escola em presença dos outros meninos «sem se enganar»)

 

 

 

imagem da net

 

 

A menina do contra!

 

a menina do contra fazia tudo ao contrário

dormia no chão com a cabeça no aquário

acordava de noite, dormia de dia

se a mãe lhe batia era uma alegria!

 

fazia torradas na banheira

tomava banho na torradeira

se caía da cadeira é que ficava porreira!

 

ía de biquini pra montanha

levava para a praia cachecol

quando estava com pressa

andava como um caracol!

 

 

 

 

 

17.Mar.14

as peripécias não acabaram

 

 

ao reler o blogue dei comigo a pensar que até pode parecer que os meus miúdos entraram numa outra fase, menos atribulada, de certo modo mais calma...«mea culpa» por falta de tempo e confesso, de menos ânimo, tenho deixado de escrever muitas das peripécias cá de casa

 

Até admito que no caso do Rafa, as explosões de raiva, impulsividade, difíceis de controlar, de tão habituais se tornaram para mim tão vulgares que até lhes tirei importância! não no peso das coisas, claro! só acabei por sentir que estaria a descrever sempre as mesmas cenas e que isso seria algo monótono para a estrutura do blogue. Mas agora que penso melhor, este é uma espécie de registo e deveria servir também para relatar esse nosso dia a dia.  

 

Quanto ao Quico, as peripécias são tantas e sucedem-se a tal ritmo que o meu rapaz é talvez o maior responsável pela tal falta de tempo. O que me sobra é para organizar as prioridades de casa, especialmente porque o final de dia não me deixa respirar! Ele é os TPC, ele é as brincadeiras sempre em correria, os banhos alucinantes, as conversas sem fim, as exigências da minha presença, enfim! 

 

Este fim de semana por exemplo, foram vários os episódios, daqueles que alteram por completo a vida de qualquer lar! O almoço de sábado foi um completo desastre pois o Rafa teve uma daquelas crises que surgem do nada, assim sem aviso, crises que sobem tão rapidamente e que se tornam imparáveis! O meu rapaz mais velho é absolutamente incapaz de se auto controlar! sozinho ainda não consegue ter aquele travão, tornando-se por isso demasiado difícil lidar com as situações. Até pode ter esse repentismo por um período relativamente curto no tempo mas aquele momento em que está fora dele, é suficiente para nos pôr a todos a mil! e se tiver «audiência» mesmo que seja o avô, então parece que o descontrolo é ainda maior. Acho que tem a ver com o facto de todos começarem a dar palpites, todos terem reacções diferentes....ele fica simplesmente incontrolável. E responde mal, manda cadeiras pelo ar, berra com todos, diz os maiores disparates sem nexo...quanto mais o forçamos a parar pela via normal, mais ele se descontrola! dado que já «apanhei» o jeito e sei que o melhor é manter a calma até o conseguir acalmar, cortando o foco das atenções, ignorando deliberadamente o motivo pelo qual aquilo começou, consigo por norma dar a volta às coisas. E foi o que aconteceu, no entanto o Quico acaba por ficar também muito alterado e não é fácil ver o alvoroço que se segue a cada crise!

 

Tanto os nervos mexeram com o mais novo que às tantas, aos saltos pela casa, pelo sofá, pelos móveis, acabou por embater no computador e lá se vai um daqueles monitores grandes touchsystem da HP ao chão...Revi mentalmente a cena da TV nova que partiram no calor duma birra...desta vez felizmente as consequências materiais não foram tão más e o pc lá se safou com algumas mossas mas sem danos que impeçam o seu funcionamento. Claro que o mais importante são as consequências a nível de atitudes dos meus miúdos. Isso, a par da tensão que se instala sempre que isto acontece...acabei por ter de passar muito tempo depois a assegurar que o Quico entendeu o que aconteceu mas sem o culpabilizar. 

 

Estas alterações são o pão nosso de cada dia! Assim como as brincadeiras antes das 8h00 para aproveitarem melhor o fim de semana, as diversas habilidades do Quico que insiste em praticar todos os desportos conhecidos, dentro de portas! E as milhentas perguntas sobre os mais variados temas que levantam as mais sérias questões aos sete anos do Quico! coisas como «mãe, onde é que o Passos Coelho guarda o dinheiro que rouba às pessoas?» tal e qual...ou «mãe achas que devo ser militar? os militares são mais importantes que os futebolistas, pois é?». Para além das mais sérias dúvidas existenciais pois ainda não entende muito bem a hierarquia dos nascimentos, pelo que continua a querer pormenores sobre quem nasceu primeiro, mesmo, mesmo primeiro, antes mesmo do mundo, ou seja quem nasceu antes e conseguiu construir o mundo? (claro que, diz ele, foram os trabalhadores, melhor dizendo, os construtores, mas ele gostaria de entender quem foi o primeiro construtor).

 

Ora digam com tanta e tão mirabolante actividade à minha volta, que tempo me sobra para outras coisas? como blogar, por exemplo? 

 

 

 

 

 

 

 

13.Mar.14

adaptar o método

 

de estudo a uma criança com PHDA é fundamental!

 

 

Para começar, quem lida com miúdos portadores de PHDA sabe perfeitamente que a escola é um dos contextos onde as caraterísticas da perturbação mais se fazem sentir. E onde é mais difícil ajustar comportamentos e estratégias, pois desse ajustamento resulta o sucesso ou insucesso do percurso académico!

Método de estudo é coisa que basicamente não existe num portador de PHDA! aliado a todas as outras dificuldades - como a concentração, a impulsividade, a desorganização - esta falta de método resulta numa ineficácia da maioria das tentativas de estudo. Desde muito cedo se tornou para mim evidente que o Rafa nunca conseguiria sozinho, orientar-se nas tarefas escolares. TPC, testes e fichas de avaliação são temas de muito debate cá em casa, sobretudo agora que já frequenta o 7º ano de escolaridade!

 

Para o meu filho mais velho, os resultados escolares nunca foram maus, na verdade as notas da pauta refletem a sua capacidade a nível de memorização (especialmente a visual e auditiva) e uma inata facilidade para matérias que a outros provocam mais dificuldades e só pecam porque o comportamento dele em sala de aula, sempre muito falador, impulsivo, inquieto, se confunde (na cabeça dos professores) com falta de respeito e indisciplina - em vez de cincos, leva quatros embora os testes sejam de 90% para cima...enfim! não é no entanto o resultado em si que está em causa. Como qualquer mãe preocupa-me que um dia, a falta de disciplina de estudo o deixe ficar para trás. Não me importo particularmente com o que vem nas pautas, o que quero é que entenda que na vida é necessário esforço e que só o seu empenho significa que está realmente a dar o seu melhor...

 

Explicar esse conceito ao meu rapaz é que já é mais complicado. Com a sua habitual impulsividade costuma responder-me torto, observando que não precisa de estudar para tirar mais porque o que tira é suficiente! além disso, nunca está preparado para encontrar um método que lhe seja adequado, simplesmente porque não se sente motivado para nenhuma matéria, ou disciplina. Imaginam o que isto tem sido em períodos de testes? pois...

 

Estratégias nunca me faltaram, desde adaptar o local de estudo às caraterísticas de um miúdo que se distrai ao mínimo estímulo, a ajustar medicação e hora da toma, a utilizar o sistema de reforço positivo, o uso de recompensa em função dos objetivos (coisas que resultam em tarefas de curta duração e em que os objetivos estão bem definidos) e muita, mesmo muita paciência!

 

Agora optei por mais uma área de intervenção. O Rafa é absolutamente obcecado por jogos de computador. Não é qualquer tipo de jogo que lhe prende a atenção. São jogos de estratégia em que a lógica prevalece e ele se sente o rei da cena. Todos os colegas o admiram e pelo que vejo ele está sempre nos lugares cimeiros dos rankings internacionais, cujas disputas são renhidas e obedecem a um critério de excelência. Tanto que já recebeu prémios e convites para fazer parte de equipas que disputam os tais rankings muito a sério. Eu tento não cortar esse tipo de interesse, até incentivo mas sempre vou vigiando e às vezes tenho mesmo de impor a minha autoridade para impedir que ultrapasse os limites de tempo ao pc. Mas ele acaba por passar muito tempo mesmo!!

 

Decidi então utilizar esse interesse para o pôr a estudar. Como nos jogos ele está por norma ligado com os colegas via skype, quase todos colegas da mesma turma, acabei por achar que podia resultar. Assim, expliquei que podiam utilizar essa ferramenta para estudarem em conjunto, cada um deles tem as suas dificuldades e assim acabariam por se ajudar. O Rafa no início não estava muito interessado, porque estudar é uma seca...mas como falei em ter o apoio dos colegas, poderem tirar dúvidas entre eles, lá se decidiu a experimentar. E assim, munidos dos respetivos cadernos, com alguma vigilância da minha parte reuniram-se três colegas e fizeram uma tarefa de grupo que se revelou gratificante. O Rafa por exemplo é bastante rápido nas tecnologias e sempre que tinham dúvidas lá se punha a pesquisar, enquanto os outros preparavam os resumos. Às tantas perceberam que se estavam a ajudar e que estavam realmente a estudar!

 

Fizeram isso por agora para duas disciplinas e a julgar pelo que contam tencionam continuar pois os testes correram bem, embora ainda não tenham os resultados «oficiais»!

 

Ora, tendo em conta que tantas vezes nós temos a ideia de que os estímulos devem ser banidos para que seja possível uma maior concentração (o que é verdade!) e tendo em conta que para terem o pc ligado, estímulos não faltam, evidente que sempre considerei errado utilizar essa ferramenta. No entanto, se orientado, essa pode ser uma aliada, estas crianças que sofrem de hiperatividade conseguem atingir um bom nível de concentração quando estimulados através de jogos, computadores ou consolas.

 

Gostava de saber o que acham os pais de crianças com hiperatividade sobre este assunto. Alguém utiliza este recurso? e o que pensam de se tirar partido desta «queda» para as tecnologias como uma possível área de trabalho no futuro? Há muito que me interesso por estudos ligados a programas e software pensados para intervenções com crianças portadoras de certas perturbações, como o autismo, a dislexia, a hiperatividade, etc. Gostava de partilhar algumas experiências nessa área, não só com outros pais/educadores, como com profissionais que trabalhem ou pensem trabalhar esta temática. Aqui fica o desafio, podem contactar pelo blogue ou através do email ludo-teresa@sapo.pt.