a República é Mulher
se dúvidas houvesse de que este seria um 5 de Outubro diferente do habitual, elas seriam desfeitas desde cedo
Não foi só e logo porque seria o último a ser comemorado num dia de feriado, nem apenas porque se trocou as voltas ao local onde se costumava celebrar, nem tão pouco porque neste ano nem o presidente quis abrir as portas de Belém...Sabiamos que este iria ser um dia da República diferente porque damos importância ao símbolo, sobretudo se alguém decide matá-lo
e porque falamos de símbolo, não se pode ignorar a triste ironia da bandeira ao contrário, ou os «incidentes» de percurso destas comemorações sem pompa mas com muita circunstância - do discurso da alternativa, à patética saída dos representantes do governo pela porta lateral...
mas nada neste 5 de outubro representa melhor o símbolo do que as mulheres que fizeram despertar o país para o verdadeiro significado da república
Cavaco continuou a discursar, numa cena absurda em que muitos dos convidados viravam a cabeça para trás para ouvirem um «Ninguém me ouve, ninguém me acode porquê?» Um desespero que a fez invadir o local dos discursos
«Não se envergonham de olhar para a minha miséria?» perguntava Luísa.
Já a cantora lírica Ana Maria, cantou com voz firme e serena o tema Firmeza, de Fernando Lopes Graça. Uma escolha plena de simbolismo.
«As pessoas estão a sofrer, eu sou uma delas. Eu ainda vou tendo emprego. Penso que era a altura de cantar o Firmeza», disse a cantora.
Aqui em casa falou-se do dia de hoje, do significado da comemoração, dos acontecimentos que fazem parte da vida de todos. Eu acho que quando as pessoas perderem a vergonha de assumirem a sua pobreza, a revolta estala de vez!
Quando os miúdos, por entre a sua enérgica forma de verem os assuntos que passam na TV me perguntaram «quem é aquela mulher mamã?» não tive dúvidas em responder «aquela é a República!»