DIÁRIO DE (BONS) RAPAZES
Podia começar como um qualquer diário, registo das aventuras dos rapazes desta casa
mas ao ritmo que as coisas se sucedem por cá, eu passaria mais horas ao pc do que a fazer as tarefas que me competem...por isso fica o resumo possível a marcar a (r)evolução dos meus filhotes nos últimos tempos
do mais novo
está cada vez mais tagarela, fala pelos «cotovelos» e debita tudo o que pensa. Tanto que na escola tem sido várias vezes chamado pela professora que a mim me vai dizendo «ele trabalha mas NUNCA está calado!». Continua super enérgico e nem as atividades da escola o fazem cansar mais cedo, mesmo com os extras...
As manhãs podem ser bem diferentes consoante o seu humor - ou maravilhosamente cooperante, ora terrívelmente avesso. Continua a querer vestir apenas roupa de verão e recusa-se a acreditar que entramos no outono (bem vistas as coisas o tempo anda meio estranho). Faz do avó o compincha de eleição mas na escola é eleito pelos coleguinhas como o «engraçado» de serviço. Come na cantina mas a partir da hora de almoço, não percebe porque tem de continuar na escola...
Falando da escola, as rotinas dos TPC estão a surtir algum efeito - coisa nova para mim que fico embevecida enquanto ele, língua de fora (ólha a concentração!) se esforça para copiar a letra i das maneiras e formas corretas....claro que de vez em quando, entende que está a ser muito demorado e acaba com o trabalho de uma vez só. Mas sabe que as «bolinhas» que a professora marca no caderninho da tabela da semana, devem ser verdes, ou pelo menos amarelas e que isso depende do trabalho bem feito e do comportamento dentro da sala de aula.
Isso do comportamento precisa ainda de muita afinação. Na primeira semana disse-me a professora que não iria marcar bola vermelha para não o desmotivar. Após dois castigos e alguns «avisos», ao final da segunda semana lá apareceram as primeiras bolinhas de cor vermelha que significa «mau» comportamento. Apesar de ter «verde» na responsabilidade, autonomia, participação e trabalho. Também os professores das AEC consideram o Quico muito agitado e já ficou de castigo para não perturbar o funcionamento da aula.
do mais velho
dizer que iniciou o ano com mais uma coleção de «recados» escolares - seis na caderneta e mais três nos cadernos é elucidativo. Continua a ser uma dor de cabeça manter o Rafa motivado, concentrado e colaborante. Desde falar durante as aulas, não anotar matéria dada, não anotar (portanto não fazer) os TPC, não levar o material necessário apesar de o ter em casa, enfim, de tudo o que já conheço este vai ser uma ano letivo muito trabalhoso...
As manhãs continuam a ser um pesadelo, fazê-lo sair de casa é tarefa de hércules, a dispersão dele é notória, nota-se no mais básico como continuar a não ser capaz de se orientar sem «empurrões». Para se vestir por exemplo demora tanto, mas tanto tempo que chego a ficar agoniada. Isto porque ele pega numa peça de roupa e é capaz de andar por todas as divisões da casa, de um lado para o outro com ela na mão, sem se chegar a vestir. Demoro mais tempo com ele do que comigo, com o Quico e com a casa em conjunto.
Por outro lado existe a sua obsessão do momento que está a demorar a passar. E quando digo obsessão, digo-o nesse sentido mesmo. Com o Rafa, um interesse passa a obsessão com facilidade. Sempre foi assim, desde muito pequenino. Recordo que com meses apenas, o Rafa ficou obcecado em conseguir levantar-se sozinho. Fazia-o horas a fio - deixava-se cair para se poder levantar sem ajuda. E de modo obsessivo nada mais o interessava, até conseguir a proeza de forma ágil (na altura o pediatra falava-me de autismo porque nesse gesto rotineiro o Rafa ficava alheado).
Sempre que ganha uma nova obsessão, o rafa esquece as anteriores e tudo o que o rodeia. Foi assim com os dinossauros, com os puzzles, com a play sation, com os pinos e acrobacias físicas, com a bola, com o hóquei e por aí fora, Agora é com o pc. Nem sei como se chama exactamente o jogo mas sei que o joga todos os segundos possíveis. Tanto que nem come, nem se veste, nem nos ouve, nem nos fala...a não ser que sejamos nós a invadir esse seu mundo, muito a custo lá nos grita uns impropérios que nos levam a discussões enormes. Não fosse a minha persistência (e a medicação) acredito que nem iria à escola, sem que para ele isso fosse «anormal».
Como já experimentei tudo - tirá-lo à força, recorrer a argumentação, mostrar-lhe provas de que o PC pode ser um vício letal, deixá-lo ficar sem o chamar para nada (esteve 12 horas) entretanto lancei um ultimato - mais um recado que seja (por falta de TPc ou de mau comportamento) e vou arrancar o PC dele, uma vez que não consigo arrancá-lo a ele do PC.
Vamos ver como se vai sair nesta semana. Pelo menos uma coisa positiva existe no facto de eu estar «colocada» na escola dele, tenho acesso direto aos professores e isso torna mais fácil o chegar à fala com eles. Aliás já estive na semana passada com a professora de inglês que me disse estar a ter muita dificuldade em o controlar na sala de aula, ele passa o tempo a falar com colegas e foi por essa razão que um dos «castigos» foi o ter de fazer 15 vezes a frase «não me vou virar para trás e falar com os meus colegas»
Toda esta agitação leva-me a andar exausta e a querer mais do que nunca que seja sempre «sexta-feira»! e logo numa segunda feira ter este espírito não é fácil!