Mas será mesmo assim?...
É a pergunta que mais tenho ouvido nos últimos dias... quando o Rafa era bébé, nunca estava bem, mexia-se muito, mesmo a dormir, pouco tempo permanecia sem chorar (que era a forma obvia de me chamar...) era tão exigente que acabava por fazer as minhas tarefas domésticas ou até mesmo as mais pessoais, com ele a tiracolo! Fazia o almoço ou jantar com ele colado a mim, as camas com ele ao colo e tomava banho, dando abanões na cadeirinha enquanto fazia a minha higiene...Com dois ou três anos, era completamente impossível fugir ás suas solicitações constantes. Quando todos os outros meninos já entendiam o conceito de «depois a mamã vem buscar» o Rafa continuava a fazer birras extremas para não ficar no infantário (algo que só se alterou com a medicação) em casa de alguém, mesmo os mais próximos ou até ficar sem mim durante um período de tempo estupidamente pequeno como a hora do (meu) banho...
Nunca brincou sozinho (ainda não o consegue fazer, aliás não consegue brincar, de todo...) e mesmo para ver um filme ou estar apenas a saltar, ele chama-me continuamente. Nesse período difícil, antes de saber o que se passava realmente com o meu filho, estranhava imenso que uma criança que sempre tivera contacto com os avós maternos (diariamente) nunca conseguisse ficar com eles sem mim (quantas vezes tentamos um jantar a dois, eu e o pai, sem nunca conseguir chegar ao restaurante, pese embora os meus pais me ligassem apenas porque a situação ficava incontrolável); estranhava que apesar de ser muito precoce até aos dois anos, querendo vestir-se sozinho, comer sozinho, lavar-se sozinho, fosse aos poucos, ficando cada vez menos autónomo até que aos cinco anos já não conseguia completar uma tarefa pessoal sem ajuda...Nessa altura não sabia, agora sei! Sei que grande parte do problema de uma hiperactividade orgânica reside no facto de o cérebro não conseguir controlar os impulsos que actuam sobre a vontade...embora queiram fazer uma coisa, a impulsividade e a desatenção, levam a melhor e geralmente a tal coisa, fica inacabada sem que se apercebam. Também sei que uma criança destas nunca corta o vínculo simbólico que tem com a figura materna. O Rafael fica realmente em pânico se não tiver contacto visual comigo, tal como aconteçe aos bébés muito pequenos. Não é um capricho, é mesmo assim....
Estes dias têm sido extenuantes porque a medicação não está a actuar como devia. Embora o médico tenha aumentado a dose do Risperidona, o que faz o Rafael menos agressivo, muito mais receptivo e mais bem disposto, o meu filhote passou a ter uma necessidade incontrolável de me ter sempre perto...sempre, mesmo. Não consigo fazer qualquer tarefa pois de imediato ele vem ter comigo, colando-se aos meus calcanhares! Não é apenas uma figura de expressão, é mesmo assim...Se deixa de me ver, fica tão histérico que o seu tom de voz denota medo, procura-me em toda a casa o que faz com que o Francisco se aperceba e tenha reacção idêntica...claro que não tenho tempo de fazer o que necessito a não ser quando adormeçem! Agora o Rafa tem dormido menos e quando acorda de madrugada não fica sozinho...é um vai-e-vem entre os dois quartos pois neste aspecto sou particularmente rigorosa, sei que tenho de escolher com cuidado o que deve dizer não e o que posso dizer sim!
A psicóloga acabou por acertar comigo algumas estratégias para tentarmos repôr uma certa normalidade nas rotinas de um menino que já tem 7 aninhos (a caminho dos oito) pois se é normal numa primeira infância (até aos 3 anitos) as crianças procurarem imitar tudo o que fazemos e por isso nos seguem para todo o lado, numa fase posterior é normal que tenham ganho independência e consigam realizar as suas actividades sem ajuda.
É mesmo assim, tou cansada mas consciente que tenho de dar um passo de cada vez, não posso esperar que a medicação altere tudo. Vamos, no entanto a Coimbra na próxima semana e tenho conversado muito com o dr. Luís para me sentir optimista quanto ao caminho a seguir. Com a minha esperança renovada por um café com limão e mel, lá vou agora tentar pôr um pouco de ordem na casa, pois não há nada mais desagradavel do que ter a pia cheia de louça ou as roupas espalhadas pelo chão, quando acordamos.