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Energia a Mais

A Hiperactividade vista à lupa

Energia a Mais

A Hiperactividade vista à lupa

18.Nov.09

das crises

 

do Rafa nem sempre aqui relato pormenores...

 

Todos os dias é capaz de fazer um ou outro episódio, normalmente ao fim do dia, quando já está sem o efeito da medicação e por isso se torna impossível de controlar. Seria quase como relatar um jogo de futebol sem interrupção - há aqueles momentos mais calmos mas de repente e sem aviso pode haver um pontapé forte, um canto matreiro ou mesmo um livre à queima roupa...e quando se parte para os pénalties está tudo de cabeça perdida!

 

Esta perda de controlo é quase sempre seguida de uma fase de acalmia em que ele age como se nada se tivesse passado antes - e isso para nós adultos, parece difícil de entender! No entanto aprendi com o tempo que o cérebro dele é como um vulcão quando explode mas em cuja memória não fica o registo...

 

A hiperactividade por si só não o fará agressivo, mas uma das consequências dessa hiperactividade é um comportamento disruptivo - ou seja instável e de oposição/desafio - logo se não tem como parar e aliar isso a um comportamento destes imaginem o tipo de crises....

 

Hoje vou relatar a última crise que fez e que transformou a nossa casa num autêntico «manicómio»!

Aconteceu ontem terça feira e à custa disso nem consegui ir ao curso...coisas que parecem saídas de um filme mas que fazem parte do dia a dia de quem convive com hiperactivos sub tipo impulsivo

 

 

Fui buscá-lo para o almoço pois como estou em casa até às 13h30 posso estar com ele e ver se realmente come (além disso a cantina é um local difícil para ele)

Ele veio para casa com a disposiçao normal sem nada que mostrasse estar aborrecido - saltou o tempo todo no caminho e entrou em casa disposto a almoçar

E foi então que começou - assim, sem aviso, como se de repente ele tivesse ficado sob um estado de hipnose...lançou-se contra mim porque a comida não tinha batata frita - há imensos dias em que não lhe dou batata frita e não reclama, não pergunta por elas e come o que lhe ponho no prato...mas a batata frita era a única coisa que lhe apetecia desta vez

E não houve argumentos para o fazer parar e ouvir-nos. Ele começou a gritar, atirou com as cadeiras para o chão, pontapeou a porta da cozinha e depois a da sala...após uma terrível cena de gritos e choro e mais gritos e ranho por todo o lado ele, transtornado e eu desvairada, agredimo-nos mutuamente e embora eu tivesse parado (porque sei que não devo dar troco na mesma moeda) não evitei uns estalos mais sonoros - a que ele deu obviamente resposta cada vez mais incontrolável!

 

Depois usei a minha táctica de guerrilha - dei a entender que iria arranjar as batatas para que ele as comesse...mas seria uma mãe sem qualquer interesse por ele a partir daí...Esta espécie de chantagem psicológica já resultou inúmeras vezes se utilizada no momento certo da luta...e acho que já lhe apanhei o jeito!

Ele acabou por dizer que já não queria as batatas, agarrou-me para que eu não as fosse arranjar e entrou em choro. Nessa altura agarrei-lhe a cabeça com as mãos e olhando-o nos olhos acabei por o controlar com palavras suaves - disse «vais comer o que a mamã arranjou para ti e vais ver que gostas, foi o avô que fez os temperos e está muito bom!»

Ele sentou-se, passado algum tempo começou a comer - tudo e ate a alface marchou e a maçã que lhe dei no fim

 

Falou para nós bem mais calmo depois e foi para a escola com ar bem disposto e sorridente, como se nada o fizesse lembrar o que tinha feito....

 

Viver uma situação destas não é fácil! não é algo que não deixe marcas, eu acabei por ficar com pouca vontade de ir ao curso e fiz gazeta...aproveitei para telefonar à minha mãe e quando ela saiu do trabalho fomos fazer umas comprinhas e lanchar!

 

No entanto acredito que outros pais com crianças assim passem por esta luta e também eles entrem em desgaste - e que muitos não conseguem falar disso e sintam a tal ponta de vergonha ou culpa, por acharem que erraram...

 

É por isso que aqui conto o que se passa no meio de uma crise, quando as tais crianças ligadas à corrente entram em choque total - espero que sirva para quebrar alguns mitos!

 

 

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