eu podia explicar
muitos dos comportamentos do Rafa
sei o que os pode despoletar, embora ainda esteja longe de os entender a 100% - acho que ninguém o poderá saber dessa forma...mas pelo menos percebo porque tem certas atitudes que para muitas pessoas são sinónimo de indisciplina ou má educação
Eu podia dar explicações absolutamente correctas para que «os outros» vissem os porquês e entendessem as razões de certos momentos que parecem de loucos...e muitas vezes até o faço!
Quase sempre em público, quando as crises são graves e não podem ser «ignoradas» eu lá avanço com os conhecimentos de causa e explico para que não seja olhado severamente, nem julgado pelas aparências...mas outras vezes, seja pelo desgaste, seja pela raiva da altura ou simplesmente por falta de tempo, acabo por deixar de lado as explicações...
não levo os meus filhos muitas vezes para locais propícios ao despropósito da implulsividade - sei da dificuldade em os controlar e entendo que os devo preservar da mesquinhez e da insensibilidade de alguns e mesmo da instabilidade desses locais públicos. Por isso, para nós, ir a restaurantes, shopping ou locais de culto (igrejas e festas por exemplo) só em ocasiões bem planeadas e quando acho que o benefício de uma saída compensa o risco...
Quando o faço, ponho os miudos ao corrente algum tempo antes (mas não demasiado para não fazer subir a ansiedade) e digo-lhes o que é esperado acontecer - isso é muito importante porque o enfrentarem algo fora da rotina sem saberem o que esperar, tem um efeito tremendo. Posso dar o exemplo do café - quando quero ir tomar um simples café e tenho de levar o Rafa (e agora o Quico) necessito de lhe dizer claramente o que pode fazer enquanto eu tomo café, tenho de o verbalizar «a mãe vai tomar café, tu podes tomar um pingo - quando chegar-mos sentas e esperas que nos atendam e pedes o teu pingo» Se o não fizer, arrisco a não o conseguir levar ou então, assim que entra no café é certo que fica desatinado e faz o que lhe passar pela cabeça - vê tanta coisa que quer tudo, mexe em tudo e nunca espera pela sua vez...
Disse ao Rafa que ía ao shopping - sim, depois de tantos dias em casa e sem alternativa viável por causa do tempo e da dificuldade em levá-los de carro, tinha de sair para arejar as ideias e deixar gastar alguma energia...
Eles iam entusiasmados para experimentarem as máquinas de jogos que estavam junto aos cinemas e claro, comer no shopping
E quando as coisas não acontecem como o esperado? as máquinas não estavam em funcionamento, algo que não foi nada fácil de explicar ao Rafa. Completamente frustrado e sem saber gerir essa frustração de outro modo, ele virou-se a mim. Junto à entrada para as salas de cinema e perante os olhares (e os comentários) de quem lá estava, saíram murros e pontapés e muitos gritos à mistura. Palavrões, chutos ao avô e empurrões a toda a gente...Perante o alarmismo do Quico eu quis levá-los para outra zona e tentar distraí-los mas o Rafa estava tão fora de si que demorou imenso tempo para aceitar ouvir...
Finalmente levei-os para a zona da restauração, ele como sempre foi o primeiro a chegar e quis fazer o pedido. Tão agitado que subiu para o balcão e foi alvo de muitos reparos de adultos esfomeados e tensos ou com alguns complexos, pelo menos a julgar pela forma como falavam para ele. Lá dei algumas (poucas) explicações e consegui que o atendessem. Depois de uma troca de menus e com o empregado baralhado o Rafa trouxe o que não queria - não queria queijo, veio com queijo...Já a reacção destemperada levou os seguranças a virem ao local - pão, alface e tomate pelo ar, gritos, pontapés e muita confusão, ele corre até ao balcão e faz novo pedido... e traz novo pão que acaba por fazer companhia ao primeiro pois a essa altura já nada era importante e o Rafa queria mesmo era dar «conta» de toda a energia que lhe consumia o corpo e o espírito...
Pela escada rolante abaixo, com o Quico ao colo e com vários olhos espetados em mim, só me apetecia sair dali para fora sem dar explicações...
Porque às vezes por mais que tente mudar o rumo dos acontecimentos acredito que o facto de os viver, serve para manter intacta a minha capacidade de luta interior. Se tiver de os explicar a todo o instante, perco a expontaneidade que tanto me ajuda...ou, se quiser ser ainda mais sincera comigo própria às vezes estou-me nas tintas para os outros e não explico porque
não me apetece!