o reviver dum ciclo
imagem da net
O tempo voa! quando damos por ele, constatamos que o deixamos escapar de repente e muita coisa se passou sem que o tenhamos feito parar!
A nossa vida cá por casa, tem sido um carrocel por vezes desgovernado. A falta de tempo para o essencial (tempo para apreciar as pequenas coisas que fazem a diferença) tem sido o maior obstáculo. Bem sei que ser mãe de dois miúdos já é para muitas mulheres, sinónimo de pouco tempo para tudo o resto...ser mãe de dois, cada um com patologia de PHDA, com necessidades específicas e diferentes dos outros miúdos, não ter o pai a dividir as tarefas básicas, manter tudo o resto dentro do funcional, é tarefa mais do que exigente, sendo evidente que fico cada vez mais com o tempo contado! Já não me lembro de quando foi a última vez que tirei um pouco de tempo para simplesmente «não fazer nada»....as migalhas que aproveito são para espreitar o blog, tentar manter um registo que me dê, anos mais tarde uma perspectiva das coisas.
Coincidência, ou não, este é um período em que revivo com grande intensidade, através do meu filho mais novo, o ciclo mais difícil que vivi com o mais velho! nada me preparou, com o Rafa, para a imprevisibilidade de ter um verdadeiro «furacão» em casa. Desenganem-se os pais que acham que os seus filhos são «traquinas», «agitados» ou mesmo os que usam o termo «hiperativo» para os descrever. Na sua grande maioria, esses pais estão equivocados! De todos os casos que conheço, pouco, mesmo poucos, se podem comparar ao trajecto tempestuoso do meu filho mais velho! acreditem que se tivessem de viver os momentos que eu vivi, teriam muita dificuldade em descrever as crianças usando os adjectivos que atrás mencionei....aliás, ainda hoje, quando olho para certas cenas, tenho dificuldade em encontrar as palavras certas para o descrever!
Felizmente demorei algum tempo a perceber, até por não ter comparação possível, que esses momentos alucinados, não eram o comum entre as crianças...nem todas eram assim! digo felizmente porque assim consegui separar as águas e quando o Quico nasceu a minha visão era já bem diferente!
Ao longo dos anos fui contornando as dificuldades, mantendo a minha atenção nos detalhes e não me deixando influenciar por pré-conceitos. Quase que por instinto separei os comportamentos do mais novo em «cópia do ambiente em que nasceu» e «aquilo que lhe pertençe pelos genes». Nem sempre a linha foi fácil de delimitar porque é impossível dissociar o que se vive do que faz parte de nós à nascença! mas acabei por entender que muito do que vivo com o meu mais novo, já antes o vivi (com diferença de faixa etária em que ocorre) com o mais velho.
O autêntico «el niño» que o Rafa era aos 4 anos, vibra agora em toda a força nos 7 anos do Quico! a turbulência é a mesma. O Quico não para um segundo, está sempre ligado à corrente, não deixa nada quieto no sítio, nunca percebe quando o dia acaba, não consegue comer sem estar a mexer-se (ou a saltar, ou a correr, ou a mexer noutra coisa qualquer), fala sem parar, nunca consegue ouvir nada até final, não olha para a TV mais de 5 minutos sem saltar ou dar pinotes, não consegue acertar o traço de um desenho, pintar sem borratar tudo, escrever é um conceito que continua a ser um desafio....imaginem o que é na escola! mesmo com a ajuda da medicação (que se faz notar na sala de aula, sobretudo durante a manhã e início da tarde) em casa tenho um autêntico ciclone!
A minha esperança é que este padrão se mantenha - ou seja, aguentando mais uns 3 anos de turbulência física com todas as suas consequências para o funcionamento de uma casa, terei depois uma fase de desgaste psicológico cerrado (que acontece entretanto com o Rafa) mas poderei dedicar-me a esse período sem andar de gatas pelo chão...não digo que o grau de exigência não seja ainda maior, simplesmente esta fase em que nada fica no sítio onde deixo por mais de dois segundos desde que o mais novo chega da escola, bule com os meus nervos! opá na verdade, bom mesmo era ter tempo para tudo!